Dada a complexidade do mundo real (e o mercado acionário não é diferente), o homem utiliza um número reduzido de regras para operar. Embora esses "atalhos" sejam úteis em alguns momentos - por exemplo, ao escutarmos um barulho, tendemos a nos desviar para o lado oposto -, eles podem nos induzir a erros sistemáticos.
Avaliações simplistas de eventos complexos devem ser evitadas. Assim como quando nos deparamos com depreciações da moeda brasileira e analistas bradam: "Comprem as exportadoras!". O real mais depreciado torna nossas exportações mais competitivas. É o lado mais visível da influência do câmbio.
Mas o desempenho de uma ação não é reflexo apenas de um fator. Tal como os acidentes aéreos são resultados de causas diversas. As exportações não são impulsionadas por um único indicador - o câmbio. É necessário que haja demanda para nossos produtos e as anêmicas economias europeia e americana não transmitem otimismo.
Além disso, é importante saber em qual patamar o câmbio se estabilizará. A maior parte dos economistas não espera uma contínua desvalorização do real a partir dos níveis atuais - ao redor de R$ 1,90. Logo, é prematuro tomar decisões de investimento com base exclusivamente no câmbio.
As ações da megaexportadora Vale estão depreciadas, logo são uma boa opção de investimento. Mas essa escolha não reside apenas no movimento conjuntural do câmbio, mas sim na comparação de seus múltiplos atuais vis-à-vis seus indicadores históricos e na sua política de dividendos mais generosa, que freia impulsos vendedores dos investidores.
Ações de companhias com foco na demanda doméstica continuam sendo a principal aposta dos investidores. E o efeito do câmbio pode trazer para o radar empresas desse segmento há muito esquecidas, menos óbvias. A desvalorização cambial também encarece os produtos importados. É o lado menos evidente, mais apagado da questão. Dessa forma, algumas companhias nacionais podem ganhar participação de mercado em detrimento dos importados. Setores que foram prejudicados pelas importações nos últimos anos podem sofrer um alívio - bens de capital (Weg, Romi), siderurgia (Usiminas, CSN), petroquímico (Braskem), têxtil (Coteminas).