A falta de concorrência no leilão de Libra pode não ter sido boa para o governo, mas foi excelente para as ações da Petrobras, que conseguiram zerar o prejuízo do ano inteiro em apenas uma tarde, e ainda puxaram o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) para a maior valorização desde maio. O Ibovespa fechou ontem em alta de 1,26%, a 56.077 pontos. Os papéis ordinários da estatal subiram 4,92%, para R$ 17,69, enquanto os preferenciais avançaram 5,30%, chegando a R$ 18,88. O desempenho, que resultou de uma movimentação de R$ 852 milhões na bolsa, reverteu completamente a desvalorização de 4,5% acumulada no ano pelos títulos da petroleira.
Entretanto, com uma participação de 40% no consórcio vencedor da licitação para explorar o maior campo de petróleo do pré-sal, a estatal pode ter que desembolsar R$ 6 bilhões dos R$ 15 bilhões que o grupo terá que pagar à União a título de bônus de assinatura do contrato. Na avaliação da analista da Corretora Concórdia Karina Freitas, existe a perspectiva de que o parte desse bônus seja financiado pelas empresas chinesas CNPC e CNOOC, que participam do empreendimento, ao lado da anglo-holandesa Shell e da francesa Total.
"O ministro (da Fazenda, Guido) Mantega garantiu que a empresa tem caixa para bancar os R$ 6 bilhões, mas existe uma informação de que os chineses entraram no consórcio para financiar a parte da estatal no bônus. Nesse caso, a Petrobras pagaria depois em petróleo", explicou. Karina acrescentou que o movimento da bolsa não é uma tendência, já que a petroleira tem um cenário nebuloso para desenvolver seu plano de negócios.
"Libra exige um investimento pesado, e há muito risco. Além da questão do bônus, não podemos esquecer que a estatal ainda precisa lidar com a defasagem dos preços dos combustíveis, que beira os 10%", disse Karina, referindo-se à diferença entre as cotações internacionais dos derivados e os preços cobrados no mercado interno.
Impacto
O governo está segurando o reajuste da gasolina para evitar impacto na inflação, a despeito das crescentes importações para suprir a demanda doméstica, e da valorização do dólar, que superou os R$ 2,35 em agosto. A defasagem já chegou a 30%, mas recuou depois que real voltou a se valorizar perante a moeda norte-americana e os preços do petróleo caíram no mercado internacional.
"O caixa da Petrobras foi onerado ao longo deste ano e ainda não há certeza de que o nível de produção vai melhorar. Mas o leilão foi suficiente para as ações recuperarem as perdas do ano. Se isso vai se manter, é outra história", afirmou Karina.
Para o economista-chefe da DX Investimentos, Lino Gill, um dos motivos da alta das ações da estatal foi o leilão ter saído pelo valor mínimo de partilha de petróleo exigido pelo governo, que era de 41,65%. "Não houve ágio, ou seja, o consórcio terá maior retorno. Além do mais, a entrada de outros participantes (Shell, Total e estatais chinesas) dá maior credibilidade ao consórcio porque essas companhias exigem um mínimo de ganho para participar de novos projetos", afirmou.
Sócios de peso
Veja quem são as parceiras da Petrobras no Campo de Libra e a participação de cada uma no consórcio:
ROYAL DUTCH SHELL - 20%
A empresa anglo-holandesa é a terceira maior empresa de petróleo com capital aberto no mundo. No Brasil, é a operadora com a terceira maior produção. É parceira da Petrobras em áreas como o bloco BC-10 (Parque das Conchas).
TOTAL - 20%
A francesa Total é a oitava maior petroleira do mundo em valor de mercado. Presente em mais de 50 países, foi uma das empresas que mais investiu em blocos no Brasil na última rodada de licitações, realizada em maio.
CNOOC - 10%
A companhia de capital aberto controlada pelo governo chinês é a maior produtora de petróleo e gás em mar na China, com atividades de exploração em quatro áreas no litoral chinês e ativos em diversas partes do mundo. É a décima maior petroleira de capital do aberto do mundo, em valor de mercado.
CNPC - 10%
A estatal China National Petroleum Corporation é a maior produtora de petróleo e gás do país asiático e tem presença em quase 70 nações. A CNPC é a companhia-mãe da Petrochina, segunda maior petroleira de capital aberto do mundo.