Os mercados de todo o mundo reagiram negativamente à iminente intervenção militar no país
Bolsas de valores derretem em todo o mundo, com os investidores fugindo dos riscos. Entre as moedas de países emergentes, o real, depois de mais uma intervenção do BC, consegue se recuperar ante o dólar. Petróleo sobe à máxima de seis meses
A minicrise, como foi classificado o momento atual pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode tomar proporções maiores. A iminência de um ataque norte-americano à Síria jogou mais estresse em um cenário que já era de aversão ao risco. Ontem, os principais mercados do planeta fecharam o dia no vermelho e a cotação do dólar frente à maioria das moedas apresentou forte oscilação. O barril de petróleo, com a possibilidade de agravamento dos conflitos no Oriente Médio e de queda na produção mundial, disparou e bateu no maior valor em seis meses: US$ 114,33 o tipo Brent e US$ 108,84 o óleo bruto. Para o Brasil, a piora do cenário internacional pode significar mais frustração com a economia e inflação em alta.
Essas novas turbulências dos mercados financeiros afetaram o dólar e os juros futuros no Brasil, que operaram durante a maior parte do pregão em alta. No fim do dia, entretanto, ambos reverteram o movimento. Ainda assim, os prejuízos se disseminaram. “Todos os mercados ficaram no vermelho, o petróleo disparou. Não há dúvida de que a questão síria foi a grande vilã do dia”, ponderou Mauro Schneider, economista-chefe do CGD Securities. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) não resistiu ao clima de tensão e derreteu 2,60%, fechando o dia aos 50.091 pontos. Com o desempenho, o mercado brasileiro amargou o segundo pior pregão do mundo, ficando atrás apenas de Madrid, que registrou perda de 2,69%.
As ações nos Estados Unidos também tiveram o pior dia desde junho, diante do possível ataque militar contra as forças do presidente da Síria, Bashar al-Assad. Nova York encolheu 1,14%, e a bolsa de tecnologia, a Nasdaq, 2,16%. “Os índices refletem a forte aversão ao risco que prevalece no mundo todo por causa da Síria, o que está mexendo com as principais bolsas, os metais e as commodities (produtos básicos com cotação internacional)”, observou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
Pressão
A equipe econômica brasileira, já pressionada por problemas domésticos, se depara, agora, com mais desafios. Enquanto tenta retomar a credibilidade no mercado precisa preparar o país para o fim do relaxamento monetário nos Estados Unidos e para as incertezas da guerra no Oriente Médio. Em setembro, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, pode dar início a um cronograma de redução dos estímulos mensais de US$ 85 bilhões. Com isso, vai diminuir a oferta de dólares, e a cotação da moeda pode disparar frente ao real e a outras divisas, o que teria impacto direto no custo de vida das famílias.
“No momento em que esses estímulos chegarem ao fim, veremos um verdadeiro duelo do BC contra a tendência de alta do dólar. São incertezas demais no cenário, e os investidores têm fugido para aplicações mais seguras, por isso a alta da divisa norte-americana”, explicou Carlos Lima, economista-chefe da CMA, uma empresa de informações financeiras. Ontem, durante parte do pregão, a divisa norte-americana se valorizou frente às principais moedas do mundo. No fim do dia, porém, esse movimento se reverteu. No Brasil, o dólar perdeu 0,65%. No Japão, no Canadá e na Inglaterra, a situação foi o inverso, e a moeda se fortaleceu (veja quadro).
Uma segunda ameaça para o bolso do brasileiro vem ainda dos Estados Unidos. Teve início uma seca inesperada no Meio-Oeste daquele país, justamente no fim da safra de grãos, questão que tem elevado os preços internacionais de soja e de milho. O problema climático nos EUA pode tornar mais caros produtos derivados de soja e também as carnes, sobretudo porque esses grãos servem de alimento para gado, porco e aves. “Sem dúvida é um fator a mais de preocupação e o governo vai monitorar isso de perto. Ainda é cedo para avaliar se teremos problemas, como no ano passado. Temos de esperar para ver se essa seca causará um choque”, disse uma fonte da equipe econômica.
A disparada do preço do petróleo no mercado internacional, que apenas ontem registrou alta de 3,3% no tipo Brent e 2,8% no óleo cru, também é fonte de preocupação para o governo. O caixa da Petrobras, que já estava pressionado pela alta do dólar frente ao real — em função do elevado volume de importação de gasolina —, fica ainda mais apertado. Se o preço da commodity continuar subindo, pode obrigar o Palácio do Planalto a reajustar os preços dos combustíveis antes do previsto. “O aumento do petróleo traz sérios problemas para a Petrobras e para o governo, bate direto na inflação”, observou Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank. “Toda essa tensão é ruim para o Brasil, que é visto como um ativo de risco. Os investidores ficam arredios”, disse Schneider.
» OGX puxa perdas
O pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) foi o pior desde 2 de julho, quando o principal indicador da casa, o Ibovespa, desvalorizou 4,24%. As perdas do dia foram puxadas pela OGX, petroleira de Eike Batista, com queda de 14,81%. Outras empresas do grupo também ficaram no vermelho, a MMX caiu 5,09%, e a LLX Logística, 4,65%. As imobiliárias igualmente sofreram. As ações da PDG encolheram 6,72% e as da Brookfield, 5,56%. Apenas três dos 71 papéis que compõem o índice brasileiro ficaram no azul: a Marfrig teve alta de 0,85%, a Oi subiu 0,49% e a CPFL Energia, 0,46%.