Se os gráficos já mostravam o Índice Bovespa em tendência de queda no curto prazo, com o tombo da bolsa na semana passada a situação tornou-se ainda mais sombria. Ao cair 2,26% no período e fechar aos 59.445 pontos na sexta-feira, o Ibovespa passou a apresentar, do ponto de vista gráfico, uma perspectiva negativa também no longo prazo, segundo Didi Aguiar, analista técnico da Icap Corretora.
"O Ibovespa deve cair nesta semana. O gráfico deu sinal de um escorregão", explica o irreverente analista, famoso pela criação da metodologia das "agulhadas", que se formam quando há uma "coincidência" de médias móveis aritméticas. "Depois de perder os 59.500 pontos, o primeiro objetivo do Ibovespa é de 56 mil pontos. O segundo, de 54 mil", diz.
Essa queda mais forte, porém, pode ser evitada, caso o índice não encerre os próximos pregões muito abaixo dos 59.500 pontos. Mas o próprio Didi confessa que não está muito otimista com o destino da bolsa. A tendência de alta do índice iniciada em agosto do ano passado - quando começou a se formar nos gráficos uma figura de impulsão chamada "ombro cabeça ombro invertido" - parece mesmo ter chegado ao fim.
Didi ressalta que os gráficos dos principais índices das bolsas de valores de outros países corroboram com a perspectiva negativa para o mercado acionário. "Tanto o Kospi [de Seul] quanto o Nikkei 225 [de Tóquio] apresentaram figuras parecidas, os "candlesticks" chamados Doji que apontam para um mercado em tendência de queda", afirma.
O Doji é um "candlestick" que se forma quando os preços de abertura e fechamento de um pregão ficam em patamares parecidos, o que mostra certo equilíbrio entre comprados (investidores que esperam a alta do ativo) e vendidos (apostam na queda). O que deve ser analisado é o momento anterior ao aparecimento do Doji. Após um movimento de alta, o Doji sinaliza enfraquecimento da pressão compradora. Foi o que aconteceu.
A reversão da tendência de alta ocorreu também em outros índices ao redor do mundo, como os das bolsas americanas, europeias e de Xangai, de acordo com o analista. "A coisa não está ficando bonita, não", brinca Aguiar.
Ele explica que, se o Ibovespa ficar distante dos 59.500 pontos, devem ser consideradas oportunidades para operar vendido no mercado, isto é, apostando na desvalorização de ativos. "Está difícil encontrar papéis em tendência de alta", justifica.
Uma das poucas ações com chance de subir, na visão do analista, é a ordinária (ON, com voto) da Marfrig, mas apenas se o Ibovespa conseguir "segurar" os 59.500 pontos, isto é, não atingir pontuação muito inferior a esse patamar. Na semana passada, o papel caiu 0,40%, a R$ 9,86, que é um nível de suporte (espécie de piso que, se ultrapassado, indica tendência de queda).
"Se o papel da Marfrig se recuperar e o cenário para a bolsa de valores não se deteriorar muito, é uma opção de compra. O preço de fechamento de sexta é um bom ponto de entrada. Mantidas essas condições, a ação deve buscar os preços máximos registrados em meados de março, por volta de R$ 12,60. Se passar disso, a "brincadeira" é para cima de R$ 14", afirma. O "stop" (ordem de venda que tem por objetivo minimizar perdas) recomendado é de R$ 9,28.
Aguiar diz que, se o Ibovespa continuar a cair e ficar muito distante dos 59.500 pontos, o melhor para quem aplica no curto ou no médio prazo é apostar na queda de determinadas ações, mas essa é uma operação que exige mais estudo e experiência por parte do investidor. Além disso, é importante usar sempre o "stop".