A valorização de quase 6% não foi suficiente para fazer o ouro brilhar aos olhos do investidor brasileiro no começo deste ano. Na BM&FBovespa, o número de contratos negociados no mercado à vista encolheu. Para o lote mais líquido, de 250 gramas, o volume financeiro de janeiro a abril deste ano é apenas um quarto do negociado no mesmo período do ano passado. Sozinho, o mês de abril de 2011 supera os US$ 24,19 milhões do primeiro quadrimestre de 2012.
O Banco do Brasil (BB) também observou uma queda de 29% no volume de transações com ouro até abril com relação ao mesmo período do ano passado. É possível comprar, por meio da instituição, tanto a barra de 250 gramas quando a escritura, em quantidades múltiplas de 25 gramas. Para isso, é preciso ser correntista do banco.
"A queda pode se explicar pelo alto volume de transações apresentadas no início de 2011, dado o cenário macroeconômico do período", diz Leonardo Loyola Reis, gerente executivo da diretoria de mercado de capitais do BB. No ano passado, a deterioração da dívida soberana europeia e a fraqueza da economia americana criavam o clima de incerteza.
"O investidor deu uma recuada após a alta, porque pensa que o ouro já subiu demais", diz Aquiles Salerno, diretor de operações da Ouro Minas DTVM. O metal, que seguia uma forte trajetória de alta desde 2009, perdeu o ritmo este ano. Até segunda-feira, a cotação na Bolsa Mercantil de Nova York subiu apenas 2,78%. No mesmo período de 2011, a alta era de 9,08%.
Na BM&FBovespa, a cotação do ouro chegou a R$ 100,40 por grama na segunda-feira, mas Salerno considera que há espaço para chegar a R$ 120. "O mercado está muito turbulento, com as crises na Grécia, Espanha e Portugal."
Na Ouro Minas, é possível comprar barras de 50 gramas a um quilo. Há ainda pequenos cartões, a partir de 1 grama, mais procurados para presentes. A demanda, segundo Salerno, supera os dez quilos por mês. Com embalagem e design, a cotação ganha um ágio. Atualmente o menor cartão custa R$ 110.
A Ouro Minas aguarda agora um sinal verde do Banco Central para fazer a custódia do ouro. Atualmente, apenas seis instituições são autorizadas a oferecer o serviço - Safra, Santander, Brink"s, Citibank, Banco do Brasil e Casa da Moeda.
Também na Reserva Metais, distribuidora do Grupo Fitta, a busca pelas barras de menor volume, cinco gramas, surpreendeu. "As pessoas compram para dar de presente de batizado, formatura, casamento... É muito mais lúdico do que dar um maço de dinheiro", diz André Luiz Nunes, presidente do grupo.
Para atender à demanda, a Reserva Metais criou no ano passado caixas como as de joias para embalar o metal. O pedido pode ser feito pelo site da empresa, com entrega em 48 horas. Desde que foi criado, em dezembro de 2010, o site vendeu 3 mil barras de diferentes tamanhos.
Nunes sente desde 2008 uma demanda mais forte da pessoa física por ouro no Brasil. Para ele, o momento é de ajuste nas cotações internacionais, especialmente devido à queda do euro, mas a trajetória ascendente não chegou ao fim. "Não acho que o cenário internacional tenha grande chance de melhorar e, por isso, vejo uma perspectiva de médio prazo para a continuidade do ciclo de alta do ouro.