O Banco Central vem repetindo que as condições financeiras ficaram mais restritivas com as mudanças na sua comunicação, a partir de janeiro, e com a alta na taxa básica de juros, a partir de abril. Dados sobre operações de crédito divulgados ontem pelo próprio BC, porém, mostram que os juros para o tomador de empréstimos bancários caíram neste período. Teria havido um entupimento na transmissão da política monetária pelo canal do crédito?
De janeiro para maio, o juro médio cobrado pelos bancos nas operações de crédito recuou de 18,6% ao ano para 18,1% ao ano. A queda ocorreu a despeito do encarecimento dos custos de captação dos bancos, que subiram de 6,4% para 6,9% ao ano.
Os juros bancários diminuíram mesmo quando são consideradas apenas as chamadas operações com recursos livres, ou seja, que excluem o crédito direcionado, cujas taxas são tabeladas pelo governo. Os juros do crédito livre recuaram de 26,2% para 25,8% ao ano de janeiro a maio. Os custos de captação dos bancos, porém, subiram. Passaram de 7,8% ao ano para 8,6% ao ano.
Os juros do crédito estão caindo num ambiente de encarecimento do custo do dinheiro porque os bancos estão cortando suas margens brutas. O spread bancário, diferença entre os juros cobrados dos clientes e os custos de captação dos bancos, recuou de 12,2 ponto percentual para 11,2 ponto entre janeiro e maio.
Não houve, também, redução expressiva na oferta de crédito. O crescimento no volume de crédito desacelerou levemente, de 16,4% para 16,1%, entre janeiro e maio, nos dados acumulados em 12 meses. A participação do crédito no Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 53,2% para 54,7% de janeiro a maio.
Por que o crédito parece ignorar o aperto nas condições financeiras? Uma possível explicação é a atuação ainda forte dos bancos públicos, que estão suavizando a transmissão do aperto monetário para a economia.
O crédito dos bancos públicos avançou a uma taxa de 28,2% nos 12 meses terminados em maio, não muito diferente dos 28,4% observados em janeiro passado. Já os bancos privados expandiram sua carteira em 6,2% nos 12 meses encerrados em maio, ante 7,02% em período semelhante terminado em janeiro.
Os bancos públicos, desde o começo de 2012, vêm cobrando juros mais baixos, por determinação da presidente Dilma Rousseff. Como eles respondem pela maior parte da expansão do crédito, sua atuação ajuda a manter mais baixas as taxas médias. Os bancos oficiais seguem aumentando a sua participação no mercado. Hoje, eles respondem por 49,4% do volume de crédito na economia, uma alta de quase cinco pontos percentuais num período de 12 meses.
A questão é se, diante da forte alta na curva de juros futuros desde fins de maio, os bancos públicos terão fôlego pra manter essa estratégia. Até as vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, a aposta da Caixa Econômica Federal, por exemplo, era de um ciclo suave de alta na taxa de juros. Há boas evidências de que esse cenário não irá se confirmar. Os custos de captação já ficaram mais altos e mais difíceis de absorver.
Ainda assim, o Banco Central subiu sua projeção para a expansão do crédito em 2013, de 14% para 15%. Quem puxa o crédito, na visão do BC, são os bancos públicos. A expansão de suas carteiras foi projetada, agora, em 22%, ante 18% na estimativa anterior.