A diversificação de investimentos pessoais com aplicações no exterior ganhou força em 2012 e especialistas acreditam que essa opção terá interesse crescente ao longo do ano. Com a perspectiva de que o juro básico se manterá em níveis baixos por um bom tempo e a escassez de oportunidades na bolsa brasileira - sem novas estreantes e com as companhias preferidas dos gestores consideradas caras -, cresce a busca por ganhos no mercado internacional. Um movimento que vale para todos os tipos de investidores, individuais e institucionais, e que, segundo executivos, se acelerou de forma relevante nos últimos meses.
Os números do setor de fundos mostram a demanda de forma evidente. O valor alocado no exterior quase triplicou, passando de R$ 12,9 bilhões ao fim de 2011 para R$ 36,9 bilhões em dezembro, com um claro movimento de aceleração do processo no segundo semestre.
Gilberto Poso, superintendente executivo de gestão de patrimônio do HSBC, lembra que não se deve perder de vista o risco cambial, que pode fazer a diferença no saldo da aplicação
Diversificar o portfólio investindo em ativos fora do país. A ideia já faz parte há algum tempo do universo de clientes private no Brasil, mas ganhou força em 2012 e especialistas acreditam que o tema terá interesse crescente ao longo deste ano. Com a perspectiva de que o juro básico se mantenha em níveis menores por um bom tempo e a escassez de oportunidades na bolsa local - sem novas estreantes e com as companhias preferidas dos gestores já sendo consideradas caras -, cresce a busca por ganhos no mercado internacional. Um movimento que vale para todos os tipos de investidores, individuais e institucionais, e que, segundo executivos, se acelerou de forma relevante nos últimos meses.
Os números do setor de fundos mostram a demanda de forma evidente. O valor alocado no exterior quase triplicou, passando de R$ 12,99 bilhões ao fim de 2011 para R$ 36,96 bilhões em dezembro de 2012. Como mostra o gráfico nesta página, o movimento se acelerou de forma nítida no segundo semestre do ano passado.
Dados da última nota do setor externo divulgada pelo Banco Central mostram que, em 2012, os investimentos brasileiros em carteira ficaram negativos em US$ 8,26 bilhões, ou seja, houve saída líquida de recursos para aplicação em ações e renda fixa lá fora. Em 2011, a conta tinha ficado positiva em US$ 16,86 bilhões.
Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM, diz que a busca por diversificação em ativos no exterior é um caminho natural e reforça que, com a queda dos juros, investidores mais sofisticados começam a olhar com atenção esta alternativa. A instituição possui dois multimercados nos quais há um compromisso de alocar o máximo de recursos permitidos (20% do patrimônio) em ativos internacionais.
A gestora do Banco do Brasil é atualmente a que mais tem papéis no exterior em carteira - cerca de R$ 20 bilhões -, mas também os independentes estão buscando alternativas em outros mercados. "Quando não há oportunidade doméstica, não dá para ficar de braços cruzados", afirma Igor Mansour, gestor de moedas da Mauá Sekular Investimentos.
"A demanda está aí. Tanto de investidores pessoa física quanto de institucionais", afirma Joaquim Levy, diretor superintendente da Bradesco Asset Management (Bram). Para o investidor individual, dizem os especialistas, fundos de investimento que aplicam em ativos estrangeiros são o caminho mais fácil para quem busca uma diversificação nessa linha. Já existem no mercado carteiras compostas, por exemplo, por BDRs (recibos de ações de companhias estrangeiras negociados no Brasil), direcionadas para investidores "qualificados" - com pelo menos R$ 300 mil em aplicações financeiras.
Os fundos também podem alocar uma parcela do patrimônio fora do país. Pela regulamentação, os multimercado tem o limite de até 20% do total de recursos. Nos demais, o corte é de 10%. A alternativa, ainda via fundos, é escolher um portfólio que possa destinar até 100% dos recursos ao exterior. Neste caso, porém, a exigência é maior: o produto é restrito aos investidores "superqualificados", com aplicação mínima de R$ 1 milhão.
Para atender o cliente que não é private, a BB DTVM estuda lançar ainda neste primeiro semestre um fundo de BDRs. O mesmo objetivo tem o Santander, também para esta primeira metade do ano. Uma das vantagens de um portfólio como este é que todas as operações são feitas no mercado local.
O Bradesco já possui um fundo de BDRs. Levy afirma que a carteira existe há pouco mais de um ano, mas teve impulso nos últimos três meses, com aumento de 30% no volume de aplicações. Segundo ele, duas fundações investiram recentemente no portfólio e uma terceira estaria perto de decidir pelo ingresso. Em dezembro, os três papéis com maior relevância no fundo eram Exxon Mobil (de petróleo), Apple e Google, com fatias que variavam de 5,14% a 4,44%.
Existe ainda a possibilidade de o cliente abrir uma conta em um banco ou corretora no exterior, enviar recursos e aplicar diretamente nos ativos estrangeiros. Neste caso, terá à disposição um leque imenso de alternativas, que vão de ações a títulos de dívida corporativa e de outros países, mas, evidentemente, precisará encarar uma rotina bem mais complexa, envolvendo custos específicos - que variam de uma instituição para a outra -, tributação diferente (ver matéria na página D2) e, sobretudo, riscos ainda mais difíceis de mensurar. "Um aspecto importante é o risco do câmbio, que pode ofuscar ou compensar a variação dos próprios ativos investidos", afirma Gilberto Poso, superintendente executivo de gestão de patrimônio do HSBC.
No Santander, Maria Eugênia López, diretora do private banking da instituição, afirma que para este universo de clientes há um amplo conjunto de serviços, que inclui aconselhamento financeiro, guarda de ativos e assessoria tributária, por exemplo. Ser private, evidentemente, depende dos critérios de cada banco. Em linhas gerais, no entanto, é preciso ter patrimônio na casa do milhão e, pelo menos, uns R$ 500 mil para investir.
Este público, diz a executiva do Santander, está cada vez mais de olho em alternativas fora do país. Com base em dados do fim de 2012, Maria Eugênia calcula que, em 12 meses, tenha crescido entre 35% e 40% o número de investidores interessados em uma plataforma global. No mesmo intervalo, houve também uma alta expressiva, de 20%, nos pedidos de análise de investimentos em imóveis no exterior. Neste último caso, diz ela, chama a atenção o fato de que, após a fase de os brasileiros concentrarem a demanda em imóveis residenciais nos Estados Unidos, surge agora o interesse também por projetos comerciais.
A executiva, no entanto, faz um alerta: antes de se lançar no vasto universo das aplicações no exterior, o investidor precisa analisar com cuidado os riscos envolvidos. O mesmo tom é adotado por outros especialistas ouvidos pelo Valor. "É preciso ter cuidado. Em geral, quando os juros caem muito, algumas pessoas começam a aplicar em qualquer coisa. O ideal é diversificar os recursos de maneira disciplinada", diz Levy, da Bram.
Uma discussão neste mercado é uma possível flexibilização dos limites de aplicação dos fundos no exterior, diante da demanda crescente dos clientes, inclusive institucionais. Luiz Sorge, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), afirma que o assunto ainda está no campo das "argumentações técnicas", mas existe a chance de haver novidades ao longo do ano. Consultada, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o assunto, diz que por enquanto não há nada previsto.