Acertar sozinho ou errar junto com todo mundo? No mercado, a segunda opção é estratégia dominante e esse também parece ser o caso nos juros futuros.
Segundo um estrategista, quanto pior o ambiente externo - onde cresce a chance de saída da Grécia da zona do euro - mais se concretiza o cenário que levou o Banco Central (BC) a começar a cortar as taxas de juros em agosto do ano passado. Com isso, os agentes locais vão para a venda de taxa futura.
De acordo com esse especialista, o mercado ganhou dinâmica própria. As estratégias de muitos fundos que operavam um contra o outro não existem mais. Estão todos na venda.
"Em uma indústria competitiva, você não pode ficar tomando ajuste negativo enquanto seu concorrente está embolsando com a queda do juro futuro", diz.
Mesmo que o lado técnico (a famosa relação risco/retorno) não esteja favorável, o gestor é "empurrado" para a venda. "O mercado ganhou uma dinâmica própria de baixa", diz.
Olhando a curva futura, a queda de ontem nos prêmios de risco reforça a projeção de Selic abaixo de 8%.
Além disso, cresceu o posicionamento para uma redução de 0,75 ponto percentual no encontro de 30 de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). Ou seja, uma parcela do mercado não dá crédito à "parcimônia" citada pelo BC na sua última ata.
Aliás, quem leu a ata de março e se posicionou para Selic ligeiramente acima das mínimas históricas perdeu dinheiro, pois em abril a sinalização mudou.
Ainda de acordo com o estrategista, há negócios com opções de juros que apostam em duas quedas de 0,75 ponto percentual na Selic. Cenário improvável duas semanas atrás.
Já no mercado de câmbio, rápidos movimentos de preço e falta de tendência descrevem bem o pregão de quarta-feira.
Depois de subir a R$ 2,009 (+0,35%) e cair a R$ 1,988 (-0,70%), o dólar comercial terminou o dia a R$ 2,002, sem variação de preço ante o fechamento de terça-feira.
Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar com entrega para junho caiu 0,12%, negociado a R$ 2,007. O contrato fez máxima a R$ 2,015 (+0,27%) e mínima a R$ 1,994 (-0,77%).
A briga entre comprados e vendidos segue firme na linha dos R$ 2. Nas mesas, fala-se em entrada de recursos de exportadores, mas os agentes seguem "com o dedo no gatilho" e reagem prontamente a qualquer piora no cenário externo.
Outro assunto em pauta é a possibilidade de atuação do Banco Central. Com a linha dos R$ 2 superada e nem sinal da autoridade monetária, algumas casas passaram a trabalhar com a linha de R$ 2,10 como ponto de entrada do BC.
Para alguns especialistas, no entanto, não existe um preço de tolerância. O BC atua dependendo da velocidade de valorização ou caso o mercado se mostre disfuncional, com descasamento entre os preços à vista e futuro ou disparada do cupom cambial.
No lado do fluxo, a semana encerrada no dia 11 mostrou sobra líquida de US$ 120 milhões.
Mas no acumulado do mês até o dia 11, o resultado é negativo em US$ 639 milhões.
Como os bancos seguem comprados em cerca de US$ 5,5 bilhões no mercado à vista de câmbio, não dá para dizer que falta dólar no mercado.
As taxas do cupom cambial (juro em dólar no mercado local) seguem em alta, mas o movimento é gradual. A taxa para julho subiu para 1,21%. Na sexta-feira, ela estava em 0,94%.
De forma simplificada, a taxa do cupom sobe quando a oferta de moeda à vista cai.
Nos derivativos, as posições dos bancos e dos fundos crescem. Os bancos têm estoque vendido de US$ 16,115 bilhões, um dos maiores já registrados. São US$ 5,393 bilhões em dólar futuro e outros US$ 10,722 bilhões em cupom cambial. Na ponta oposta, os fundos estão comprados em US$ 13,537 bilhões. São US$ 4,639 bilhões em dólar e US$ 8,898 bilhões em cupom cambial.