A expectativa de que o real não repita a desvalorização vista neste ano, amparada pelo sinal do Banco Central de que não permitirá uma nova valorização brusca do dólar para não impactar a inflação, deve se traduzir numa recuperação dos ganhos com arbitragem com a moeda brasileira em 2013. A retomada dos lucros por essa via é esperada conforme o governo já começou a desmontar medidas de controle de capital que encareciam esse tipo de operação e também diante da perspectiva de que a taxa básica de juros da economia não sofra novos cortes no próximo ano.
A última vez que o chamado "carry trade" com reais registrou perdas foi em 2008, ano do estopim da crise financeira internacional que sacudiu os mercados. Naquele ano, quem captou recursos em dólares, por exemplo, para aplicar na moeda brasileira teve um prejuízo de 21%, resultado ditado principalmente pela queda de 31% da moeda brasileira no período.
Neste ano, quem fez uma operação semelhante perdeu, em média, 1,5%. O investidor que tomou emprestado ienes e fez aplicações na moeda brasileira teve um prejuízo de 1,3%, enquanto as aplicações em reais a partir de empréstimos em euros tiveram uma perda média ainda maior, de quase 2%.
No entanto, esses números consideram apenas o diferencial puro entre a taxa de juros brasileira e as dessas economias subtraída a desvalorização do real no período em relação a cada uma das moedas. Em relação ao dólar, a queda da moeda brasileira foi de 9,45%, por exemplo.
Mas, para alguns investidores, as perdas podem ter sido ainda maiores, por causa da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre algumas modalidades de financiamento externo. Nesse caso, as perdas com empréstimos tomados em dólar e aplicados na moeda brasileira alcançaram cerca de 7,5% quando o financiamento é em ienes e quase 8% quando a moeda do empréstimo é o euro.
A magnitude em que ocorreu a depreciação cambial - ao lado da queda de 3,75 pontos percentuais da taxa Selic entre janeiro e novembro deste ano, para a mínima histórica de 7,25% ao ano - é apontada como o principal fator por trás das perdas com "carry trade" em real neste ano.
Para o próximo ano, contudo, investidores veem poucas chances de uma nova disparada da moeda americana. Isso porque o BC tem demonstrado que não tolerará novas altas do dólar devido ao impacto que esse movimento teria sobre a inflação, que deve rondar 5,5% em 2013. Também o fluxo de capitais deve melhorar, na esteira da flexibilização de parte das medidas tomadas no passado para conter um então expressivo ingresso de recursos. Nesse contexto, o Banco Central continuará se valendo de swaps cambiais e intervenções no mercado à vista para reduzir a volatilidade, mantendo a moeda entre R$ 2,00 e R$ 2,05.
De fato, o mercado aposta que a taxa nominal de câmbio terminará o próximo ano praticamente nos mesmos níveis em que está agora. A última edição da pesquisa Focus do BC aponta que a moeda americana fechará 2013 em R$ 2,08, segundo a mediana das previsões de cem analistas. Isso representaria uma alta de apenas 0,78% em relação à cotação de R$ R$ 2,064 do fechamento de ontem.
E como lembra o gestor da FRAM Capital, Roberto Serra, a simples estabilidade da taxa de câmbio já garante os ganhos com o diferencial dos juros doméstico e internacional. "Enquanto houver esse diferencial de juros, o "carry" vai ser positivo", afirma. Enquanto a Selic está em 7,25%, a taxa básica de juros nos Estados Unidos se encontra entre zero e 0,25%, a da zona do euro está em 0,75%, enquanto o juro praticado no Japão - cuja moeda é uma das mais utilizadas para financiamento de operações de carry trade - é de 0,10% ao ano.
Serra prevê ainda que, apesar da incerteza regulatória que tem impactado a avaliação dos estrangeiros sobre o Brasil, o capital externo deve continuar fluindo para o país. "O juro lá fora está perto de zero e quem aplica lá está perdendo dinheiro. Essa é uma situação que faz os investidores fugirem desses mercados para maximizar os ganhos. E o Brasil ainda é atrativo, mesmo que essa atratividade já não seja a mesma", diz.
O economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel, pondera, contudo, que o dinheiro que pode ingressar no país em busca de ganhos com arbitragem terá pouco impacto em termos de taxa de câmbio. "Se fôssemos levar em conta apenas o "carry trade", o real deveria estar bem mais próximo do intervalo entre R$ 1,90 e R$ 1,95 do que no nível em que está agora. Tem uma clara influência do governo aí, que continuará no próximo ano", afirma, estimando que o dólar persistirá na faixa entre R$ 2,00 e R$ 2,10 em 2013.