Quando há reunião de pessoas diferentes, os problemas, quando surgem, levam a uma grande crise. Esse foi o ponto principal da mesa redonda com os palestrantes Luiz Antônio Licha e Maria Alejandra Corporale Madi, ambos com longa experiência acadêmica. Ele, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e ela, conselheira do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) e professora do Departamento de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp).
A União Europea (UE), com a reunião monetária de países diferentes, já indicava, segundo Licha, uma possível crise. Mas nem sempre é possível evitar um conflito, mesmo que previsto. Segundo Licha, as distinções dos ciclos econômicos dos países da UE podem resultar de choques diferenciados, como na demanda agregada e no nível de atividade, na taxa de inflação, nos preços e nos prêmios de risco dos ativos financeiros, como também na expansão do crédito.
Os efeitos dos choques nos chamados países do PIIGs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) são, de acordo com Licha, a taxa de crescimento da demanda agregada e do nível de atividade, o aquecimento da economia com o crescimento realimentando a inflação, a inflação apreciando a taxa de câmbio real do país e, com isso, criando um problema de competitividade e, consequentemente, se manifestando no aumento do déficit da conta-corrente, além do aumento da arrecadação fiscal – o que pode gerar crescimento de gastos públicos sem gerar grandes déficits fiscais e o aumento dos preços dos ativos financeiros. Este último, inclusive, pode acarretar uma bolha especulativa em alguns dos mercados dos PIIGs e, logo, fazer caírem os prêmios de risco. E não há pior crise do que a de crédito.
Novo padrão
Para Maria Alejandra Corporale Madi, um novo padrão de acumulação de capital surgiu. Ele é fruto da liberalização e da desregulamentação, que formou uma nova configuração da riqueza, com um ciclo econômico comandado pelo financeiro.
A crise europeia atual, informa Maria Alejandra, ocorre devido à interdependência da conexão financeira. Os bancos se tornaram muito conectados financeiramente. E, atualmente, há um crescimento instável na Zona do Euro. “Nem todos os países sofrem forte impacto financeiro, mas sim um impacto, uma crise de confiança. Apesar de existir um Banco Central Europeu, foram os estados que saíram na frente para gerir a crise e socorrer seus bancos”, esclareceu ela.
A saída para a crise europeia, avalia Maria Alejandra, são os pacotes de reestruturação da dívida soberana. E isso parece estar sendo articulado, uma vez que os países da Zona do Euro estão participando de reuniões para discutir o assunto. Mas tudo caminha para uma política austera.
“Estamos em um profundo momento de desequilíbrio financeiro e a tendência é de que teremos recessão. Crise econômico-financeira gera também uma crise social com o aumento da informalidade e do desemprego”, avalia a economista.
No que diz respeito ao Brasil, ela acrescenta que desde o ano passado o governo vem enfrentando a crise com a realização de leilões no mercado de câmbio à vista, com a elevação dos impostos de importação, com a liberação do compulsório e com a implantação do Plano Brasil Maior.
No entanto, as incertezas globais passam pela instabilidade do sistema financeiro, pelo desequilíbrio nas finanças públicas, pelas perdas e reposições das finanças das famílias e pela guerra cambial.
Por fim, Maria Alejandra afirma que o ano de 2012 está sendo de desempenho frágil. O Brasil vive um momento de transição, de inflação acima da meta e, no que diz respeito ao câmbio, um momento bem próximo do câmbio fixo, além de uma política de capital expansionista. Em resumo, a economia brasileira está crescendo abaixo dos outros países emergentes.