O saldo comercial do Brasil com seus principais parceiros encolheu em 2012, devido principalmente à queda mais acentuada da exportação total, que chegou a 4,7% no acumulado até novembro, na comparação com o ano anterior. Houve redução de superávit com China, Argentina e União Europeia. No conjunto das três regiões, o saldo positivo entre janeiro e novembro foi US$ 12,5 bilhões inferior ao registrado em igual período de 2011.
Nas trocas com Estados Unidos e África, houve melhora. Nesses dois casos, porém, não chegou a ocorrer inversão de sinal, apenas a redução do déficit já existente.
A redução do superávit comercial com a China e com a União Europeia foi resultado não só de queda maior que a média na exportação, como também de uma elevação das importações num período em que o total dos desembarques brasileiros caiu.
No acumulado até novembro contra igual período de 2011, as vendas para os chineses tiveram redução de 6,5% enquanto o embarque brasileiro total sofreu queda de 4,7%. No mesmo período a importação de produtos chineses cresceu 5,2% enquanto os desembarques totais caíram 1,1%. Considerando países isolados, a China hoje é o maior destino das exportações brasileiras e o maior fornecedor de importados. Isso fez o superávit de US$ 10,5 bilhões cair para US$ 6,3 bilhões.
Na mesma comparação, os embarques para a zona do euro tiveram queda de 6,7% enquanto as importações com origem na União Europeia cresceram 3,4%. O saldo comercial com a região chegou a novembro em US$ 1,3 bilhão, resultado US$ 4,8 bilhões menor que o do acumulado em 2011.
Diferentemente da evolução das trocas com os chineses e países da zona do euro, a redução do saldo com a Argentina foi resultado da queda de 20,5% nos embarques para o país vizinho.
Para 2013, estimam economistas, os saldos com a Argentina e com a União Europeia não devem apresentar grande melhora ou mudança de rumo. A China, por enquanto, divide opiniões. A grande incógnita é o nível de crescimento da China, o que afetará não só o volume da exportação brasileira para o país, como os preços das principais commodities embarcadas para o mercado chinês.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), estima em 7,5% o crescimento chinês em 2013. Expansão abaixo desse nível, diz, pode afetar as cotações das commodities em geral. Acima disso, pode levar a uma recuperação. Segundo Castro, a incógnita chinesa fica ainda maior, porque o ano que vem será um período de transição para o modelo de crescimento apontado pelo novo governo chinês, mais focado em elevação de renda do que em investimentos.
Menos otimista com o crescimento chinês, Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, aposta em um crescimento para o país asiático de 6,5%, o que significará desaceleração em relação aos 7% de crescimento estimados para 2012.
Silveira estima que isso contribuirá para uma queda nos preços médios das commodities em 2013, na comparação com 2012.
O economista diz que a tendência para o próximo ano é de queda de preços e estabilização de volume em relação ao embarque brasileiro de commodities. "Se houver aumento de demanda do minério de ferro pela China, será pequeno e essa elevação será captada pela Austrália, um fornecedor que está mais próximo e tem a vantagem de frete menor."
A importação brasileira deverá apresentar crescimento em 2013, avalia Silveira. "O país vai continuar crescendo e com isso haverá maior demanda de insumos, bens de capital e também de bens de consumo, já que a produtividade da indústria ainda deve reagir aos estímulos do governo." Silveira estima crescimento de 3% para o Brasil em 2013.
O crescimento de importação pelo Brasil, diz Silveira, pode trazer de volta o processo de deterioração das trocas com os americanos, que são fornecedores de máquinas e bens de maior valor agregado. "Ao mesmo tempo, os Estados Unidos não devem crescer tanto em 2013 a ponto de elevar as importações de produtos brasileiros."
Para Castro, da AEB, a melhora no saldo comercial com os americanos, com a redução de déficit em 2012, não deve ser comemorada, já que trata-se de uma recuperação pequena frente à grande deterioração que essas trocas sofreram nos últimos anos.
O último superávit comercial nas trocas com os americanos foi em 2008. No ano seguinte, o saldo mudou de sinal e o déficit foi crescente até o ano passado. Em 2012, o saldo negativo deve cair. A melhora se deve em boa parte à exportação de etanol e petróleo, produto que representa 20% da pauta de exportação aos Estados Unidos.
Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), diz, porém, que os Estados Unidos representam uma promessa para elevar as exportações brasileiras. As estimativas de crescimento americano entre 2% e 3%, diz Branco, podem resultar em maior embarque de manufaturados brasileiros.
A maior unanimidade entre os economistas é a Argentina. A análise geral é que a situação comercial com o país vizinho não vai melhorar e, por isso, as vendas para os argentinas devem continuar caindo. Algo semelhante deve acontecer com a União Europeia, cujas economias não devem se recuperar tão cedo. "Há o agravamento do desemprego em vários países e provavelmente as exportações para lá não sofrerão apenas com queda de preços, como também com redução de volumes", diz Castro.