Assim que a ata do Copom for publicada no site do Banco Central hoje, às 8h30, os economistas deverão imediatamente buscar o parágrafo 35 do documento. É esse trecho que deverá confirmar ou eliminar as apostas em novas quedas da taxa Selic. Foi a partir dele que, na ata passada, o BC estabeleceu como "piso" a taxa de 9% para a Selic, ao afirmar que "o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Assim, se de fato o BC quer manter a porta aberta para novas reduções, será necessário alterar esse trecho.
A aposta da maior parte dos analistas é de que sim, o BC irá tirar essa trava do documento. Isso explica o movimento de queda dos juros futuros durante boa parte do pregão desta quarta-feira, a despeito da recuperação observada no exterior, que se refletiu, por exemplo, na alta dos juros dos Treasuries. "Só a expectativa de que o BC irá manter a porta aberta para novos cortes da Selic explica a queda dos DIs em um dia em que cresce o apetite por risco", define um profissional, que prefere manter o anonimato.
Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, há razões técnicas que justificariam a mudança no tom da ata de amanhã. "Entre as duas últimas reuniões do Copom, aconteceram coisas importantes, como a piora do ambiente externo, que justificam a eliminação desse parágrafo", afirma. A questão, diz ele, é que a regra da remuneração da poupança é um limite importante para novas quedas da Selic. Por isso, Leal não acredita que o BC assumirá um compromisso com novas quedas.
"A ata deve repetir o tom do statement e simplesmente manter a porta aberta, porque a solução para a poupança não deve surgir nos próximos dias", explica. "Acredito que o parágrafo 35 será alterado e a preocupação com problemas institucionais será reforçada", diz.
Outra aposta dos profissionais é de que a piora do ambiente externo deve ganhar espaço no texto da ata. Foi essa uma das grandes mudanças de cenário observadas nas últimas semanas. Depois da recuperação da economia americana no primeiro trimestre, os indicadores voltaram a derrapar.
Internamente, outros fatos ocorreram, como a surpresa com um IPCA mais baixo do que o esperado. Em março, o índice subiu 0,23%, abaixo da projeção de 0,40%. Sem falar no Relatório de Inflação, que amenizou as preocupações com o rumo do IPCA em 2013, e também o discurso do governo, claramente preocupado em garantir estímulos à enfraquecida atividade econômica.
A explicação sobre como o BC vê esses fatores é que deveria ser bem explorada no documento, na opinião do estrategista da Nomura Securities, Tony Volpon. "Acho que falta o BC esclarecer qual é a sua estratégia, o que exatamente ele está olhando para definir o rumo da política monetária", afirma.
Ele lembra que, em janeiro, a ata do Copom trouxe um claro sinal de que o alívio monetário prosseguiria, ao afirmar que o juro neutro na economia estava em queda e que havia espaço para um juro de um dígito, estimulando apostas em um corte da Selic para algo ao redor de 8,50%. Na ata seguinte, em março, o BC estabeleceu o piso de 9%, provocando uma correção nas projeções de juros futuros. Quando, enfim, o mercado começou a avançar de novo na expectativa de uma Selic mais baixa por causa da inflação corrente e do discurso do governo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, concedeu uma entrevista em que reafirmou seu compromisso com a última ata - ou seja, com o piso de 9%. Até que, no último statement, o BC trouxe de volta à cena a possibilidade de mais alívio monetário, ao dizer que "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e que "dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária". "Afinal, para que o BC está olhando: para a inflação? Para a poupança? Para o cenário externo? Gostaria muito de saber amanhã [hoje] qual é a estratégia do Banco Central, porque a pior coisa que a autoridade monetária pode fazer é adicionar volatilidade, como vem acontecendo nos últimos meses", conclui.