Mesmo com o novo patamar do dólar, o Banco Central dificilmente deixará de oferecer ao mercado a possibilidade de rolagem das operações de swap cambial reverso que vencerão no início de junho e de julho deste ano. Cruzar os braços e simplesmente deixar vencer os contratos equivaleria a injetar no sistema financeiro, em um mês, perto de US$ 3,12 bilhões. Isso tenderia a baixar a cotação da moeda americana, algo que o governo tem demonstrado que não quer.
O Banco Central não antecipa sua estratégia no mercado de câmbio, mas as manifestações de contentamento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a escalada da desvalorização do real, indica que o governo todo está satisfeito com a taxa de câmbio. Ontem, o ministro voltou a falar sobre o assunto e perguntado se o BC poderia vender dólar, disse que não acreditava nessa possibilidade.
Ao colocar os swaps cambiais reversos que estão para vencer, o BC fez uma operação equivalente a compra de dólar no mercado futuro. Por isso, desfazer essas posições agora teria o efeito de vender a moeda estrangeira.
O diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme, é um dos que aposta que haverá tentativa de rolagem. O mercado pode até dispensar, mas o BC, acredita ele, certamente vai anunciar um novo leilão de contratos de swap cambial reverso ainda em maio, para rolar os US$ 650 milhões com vencimento em 1° de junho.
Sidnei lembra que das últimas vezes em que rolou esse tipo de operação, o BC nunca deixou para o último dia. Fez o leilão antes, para liquidação no dia de vencimento dos antigos contratos. Assim, as operações que vão vencer no dia 2 de julho, no valor de US$ 2,47 bilhões, também deverão ser objeto de rolagem antecipada.
O mercado tenderia a recusar a oferta da autoridade monetária, preferindo livrar-se da posição vendida em dólar, se a causa da desvalorização cambial das últimas semanas fosse uma falta de liquidez em moeda estrangeira. O motivo da recente escalada do dólar, porém, é a aversão a risco pelo agravamento da situação na Europa.
O mês de maio começou com fluxo cambial negativo. Nos quatro primeiros dias, as saídas de dólar do país superaram as entradas em US$ 1,78 bilhão. Na visão de Sidnei Nehme, ainda assim não se pode falar em escassez porque a carteira de câmbio dos bancos estava com saldo positivo de US$ 5,99 bilhões em abril.
A situação internacional ficou mais difícil, não só pelos resultados das últimas eleições na Europa e o aumento da possibilidade de exclusão da Grécia da zona do euro. Os últimos números da economia chinesa, mostrando desaceleração além da prevista, complicaram ainda mais o cenário. Embora alguns analistas ainda acreditem na possibilidade da China recuperar parte do dinamismo no segundo semestre, o fato é que a crise internacional entrou num novo ciclo, acentuando as pressões desinflacionárias da economia mundial.
Apesar de o governo, através de Mantega, manifestar contentamento com a desvalorização do real, a queda nos preços internacionais das commodities pode neutralizar esse benefício para a economia doméstica. Ao mesmo tempo, a queda das commodities também pode compensar eventuais pressões inflacionárias decorrentes do novo patamar da taxa de câmbio.
O buraco em que se meteram os países desenvolvidos traz, também, consequências danosas para a reativação da atividade econômica do país. O governo, que começou o ano falando em crescimento de 4,5% este ano, já considera um bom resultado o Brasil crescer qualquer coisa ligeiramente acima dos 2,7% de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado. Os dados do primeiro trimestre indicam crescimento de 0,5% sobre o trimestre anterior.