As duas atuações do Banco Central (BC) não aliviaram a demanda por moeda americana.
O dólar comercial subiu 1,66% e fechou a R$ 2,08, maior cotação em três anos. No mercado futuro, a alta foi ainda mais expressiva, o contrato para junho subiu 2,39%, para R$ 2,0955.
Com a oferta de swap (que equivale à venda de dólar futuro), o BC antecipou o vencimento de quase US$ 3 bilhões em swaps reversos (que equivale à compra de dólar futuro). A retórica é de que por se tratar de antecipação, a atuação não caracteriza venda. Mas deixando de lado essa tecnicalidade, tal operação é, sim, uma venda.
Discordando de parte do mercado, que vê nas atuações do BC um aceno sobre "teto" para a taxa de câmbio na linha de R$ 2,05, o superintendente de tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta acredita que não há "teto" nem "piso" para o dólar.
"Temos um governo e um BC que não estão preocupados com esse comportamento do dólar nem com as consequências adversas disso", diz.
Segundo Trotta, o mercado está mais pessimista e tenta pressionar o governo a mudar as medidas de restrição adotadas para conter a queda do dólar.
No entanto, não há sinalização de que essas medidas serão revertidas. De fato, os acenos recentes do governo são de que o dólar a R$ 2,0 não preocupa. A visão é de que essa valorização cambial vai beneficiar a indústria.
Ainda de acordo com Trotta, não é possível esperar deste BC uma ação mais enérgica no câmbio. "O BC tem se mostrado favorável às taxações e ele está mais escorado no viés do governo de colocar o dólar para cima para agradar ao exportador."
Para alguns participantes do mercado, no entanto, o governo deveria sim mudar de postura e falar abertamente que a velocidade de valorização bem como o nível de preço geram algum tipo de preocupação.
"O dólar sobe mais de 30% em 12 meses. Podemos ter empresas perdendo dinheiro, bancos perdendo dinheiro", diz um gestor.
Para esse especialista, o comportamento do real - destaque mundial de baixa -, bem como da Bovespa - uma das piores do mundo -, não é mero reflexo da piora do quadro externo. Mas sim uma resposta dos investidores à mudança de avaliação quando ao Brasil.
"O estrangeiro começa a deixar o país. E a valorização muito rápida do dólar joga ainda mais lenha na fogueira", diz.
Segundo o especialista, o ativismo do governo federal, com seus inúmeros pacotes, medidas setoriais, briga com os bancos e mão pesada sobre o capital externo, começa a mostrar seu custo.
Para o gestor, é preciso tomar cuidado para o Brasil não "cair na boca do povo" de forma negativa.
O Brasil já está sendo visto como um país de baixo potencial de crescimento. "Depois de anos sem precisar convencer ninguém de nada, o quadro mudou. Todo mundo vinha aportar recursos no país já apaixonado por ele. Agora, o momento é outro. O governo tem de convencer que esse é um bom lugar para se investir."
E o que assusta, diz ele, é que o governo não parece preocupado com isso. Todos os acentos até agora são negativos. O governo está cada vez mais atuante e menos inclinado a rever as medidas de controle de capital que foram vendidas como temporárias.
Se a ideia é estimular o crédito e o crescimento, acredita o especialista, está na hora de rever os impostos e restrições.
Ainda de acordo com o gestor, a vantagem do dólar mais alto que o atual é marginal para o exportador. O que essa puxada rápida de preço está fazendo é chamar mais agentes para fazer hedge (proteção), o que alimenta ainda mais a alta. "Enquanto o governo não acenar que não deseja essa velocidade de valorização, as empresas vão continuar correndo para o dólar", diz.
Agora, se a ideia do governo é "incomodar" o mercado ou não permitir ganho fácil com o câmbio a melhor saída é deixar a moeda cair. "O que dói no bolso, agora, é a queda do dólar", diz o gestor, apontando para a posição comprada (pró-dólar) dos fundos locais e dos estrangeiros no mercado de derivativos.