O balanço de pagamentos de abril mostrou que houve ingresso líquido de capitais de US$ 12,8 bilhões, pouco menos do que os US$ 13,6 bilhões registrados em março. Esse indicador, portanto, não permitiu perceber efeitos do agravamento da crise internacional nas contas externas do Brasil. Do total de US$ 12,8 bilhões, os estrangeiros contribuíram com US$ 9,1 bilhões, consideradas todas as modalidades de capital. O resto foi dinheiro de brasileiros que estava no exterior e que foi trazido de volta ao país.
Em março, os estrangeiros responderam por um ingresso maior, mas não muito maior: US$ 10,377 bilhões. Assim, também nesse aspecto o dado de abril é insuficiente para medir os efeitos da crise sobre o fluxo de capitais para o Brasil.
A queda de pouco mais de US$ 1 bilhão no ingresso de capitais estrangeiros de março para abril foi praticamente queda de IED. O fluxo desse tipo de investimento, que tinha sido de US$ 5,887 bilhões em março, respondeu por US$ 4,67 bilhões em abril, incluindo aí US$ 624 milhões de empréstimos intercompanhias (matriz-filial).
Os investimentos estrangeiros em carteira (ações e títulos de renda fixa) subiram de US$ 1,4 bilhão para US$ 1,79 bilhão. O fluxo dos demais capitais estrangeiros, entre eles empréstimos diretos e créditos comerciais, passou de US$ 3,1 bilhões para US$ 2,65 bilhões, ainda na comparação de março com abril.
O BC projeta para maio ingresso de US$ 3 bilhões em IED, ou seja, mais uma queda. Fernando Rocha, chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, não vê essa redução como consequência da recente deterioração do cenário internacional. Ele diz que oscilações no fluxo mensal são normais e que esses investimentos são planejados com bastante antecedência e, portanto, já estavam definidos.
Além disso, os números do IED até agora estão "em linha" com a projeção do BC para 2012, feita ainda em 2011, e que prevê ingresso de US$ 50 bilhões, acrescentou Rocha. Segundo ele, o fato de o fluxo projetado para maio deste ano ser inferior ao de maio de 2011 (US$ 3,973 bilhões) também não está nada fora do que se previa antes da deterioração recente do quadro internacional. Na comparação anual, a projeção para 2012 também é inferior ao que ocorreu em 2011, ano em que fluxo de IED alcançou US$ 66 bilhões.
O fluxo de capitais em abril financiou com sobra o déficit do país em transações correntes com exterior, permitindo que o balanço fechasse o mês com saldo positivo de US$ 7,7 bilhões.
A conta de transações correntes (despesas e receitas internacionais com comércio, serviços, transferências de rendas e transferências unilaterais) registrou déficit de US$ 5,4 bilhões, o maior em valores nominais para meses de abril.
Houve elevação tanto em relação a março (US$ 3,3 bilhões) quanto em relação a abril de 2011 (US$ 3,6 bilhões). Mas, no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, o déficit caiu de US$ 18,37 bilhões para US$ 17,49 bilhões em relação a 2011.
Medido em 12 meses como proporção do PIB estimado pelo BC, o saldo negativo das transações correntes fechou abril em 2,04%, nível superior ao do período encerrado em março (1,98%), mas inferior ao que chegou em janeiro (2,17%).
As remessas de lucros e dividendos ao exterior, um dos itens mais pesados da conta de transações correntes, atingiram US$ 2,42 bilhões em abril, já abatidos valores recebidos em função de investimentos brasileiros no exterior. Isso representou aumento de 14% sobre a cifra de abril de 2011. Já no acumulado do quadrimestre, período em que essas despesas foram de US$ 5,89 bilhões, observou-se uma queda de 44%, em relação a igual período de 2011.
A desvalorização cambial influenciou bastante essa redução, avalia Rocha. O câmbio menos favorável não só tende a postergar mas também diminui o valor em dólar dessas remessas uma vez que os lucros e dividendos são apurados em reais.
Outro item que teve peso relevante na conta de transações correntes foi o aluguel de equipamentos. Esses gastos somaram US$ 1,84 bilhão no mês e US$ 6,15 nos primeiros quatro meses do ano, ante US$ 1,31 bilhão e US$ 4,93 bilhões em iguais períodos de 2011. O Banco Central vê esse dado como positivo já que está associado ao nível de atividade econômica.
Os gastos com viagens internacionais foram de US$ 1,25 bilhão no mês e de US$ 4,71 bilhões no acumulado do ano. Em comparação a 2011, gastou-se menos no mês e mais no quadrimestre. Em comparação a março (US$ 997 milhões), porém, a despesa líquida com viagens subiu apesar do encarecimento do dólar.
A balança comercial, que normalmente compensa gastos com serviços e rendas, em abril contribuiu com apenas US$ 882 milhões para a redução do déficit corrente. Desde ano passado, o BC vem dizendo que a balança comercial é um canal de contágio da crise, na medida em que a menor demanda global afeta as exportações.
As projeções do BC indicam que este ano o déficit em transações correntes será de US$ 68 bilhões e que, portanto, não será totalmente coberto pelos investimentos estrangeiros diretos, estimados em US$ 50 bilhões. Até abril, no entanto, o IED financiou totalmente o déficit (US$ 19,6 bilhões versus US$ 17,49 bilhões). Essa situação se manterá em maio, mês em que o BC espera US$ 3 bilhões de IED e de transações correntes.