Alexandre Tombini diz que decisão dos EUA não muda política monetária no Brasil. Taxas sobem no mercado futuro
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem que a decisão do Federal Reserve (Fed, a autoridade monetária dos Estados Unidos), de manter por mais tempo o programa de estímulos econômicos não altera nem a política monetária nem o programa de câmbio no Brasil. A afirmação provocou a subida dos juros no mercado futuro. O contrato para janeiro de 2015, o mais negociado, avançou 0,02%, fechando em 10,07% ao ano.
No mês passado, o BC anunciou que faria ofertas diárias de dólares ao mercado, até o fim do ano, num montante total de até US$ 60 bilhões. Tombini garantiu que o programa continuará, apesar da decisão do Fed, contrariando o que disse na semana passada o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Da nossa perspectiva, o programa (de câmbio) é adequado, está funcionando bem”, disse.
A venda de dólares tem ajudado a conter as cotações da divisa e a segurar as pressões inflacionárias. Mesmo assim, o mercado espera que a Selic, que vem subindo gradativamente desde abril, tenha um novo aumento em outubro, de 0,5 ponto percentual, o que levaria a taxa para 9,5% ao ano. Há dúvidas, no entanto, sobre o ritmo de aperto monetário depois disso.
Na avaliação do economista-chefe do INVX Global Partners, Eduardo Velho, os analistas já apostavam em uma Selic de 10% no mercado futuro. “Isso deverá ser reavaliado porque o dólar se acomodou em R$ 2,20 e diminuiu a pressão sobre os preços. Assim, há possibilidade de o Banco Central evitar uma alta maior da taxa”, afirmou.
Para ele, no entanto, Tombini deixou claro que a elevação da Selic na próxima reunião do Copom já está decidida. “A mudança é no mercado futuro. O aumento de meio ponto da próxima reunião deve ser consolidado, mas pode haver mudança em relação ao ciclo total de aperto monetário. Na minha opinião, ele deverá ser mais suave”, destacou.
Para o economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, a alteração é pouco significativa. “Nós continuamos com nossa previsão de que a Selic vai subir 0,5 ponto percentual em outubro e 0,25 ponto na reunião seguinte, para fechar o ano em 9,75%”, disse Santos.
Na opinião do economista da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, o cenário está mais tranquilo depois da decisão do Fed. “Acho que a ideia de uma Selic acima dos dois dígitos está descartada. Trabalhamos com a expectativa de duas novas altas, com a taxa alcançando 9,75%.”
Gasolina
Eduardo Velho afirmou ainda que o governo deve autorizar um reajuste da gasolina este ano, sob pena dos índices de inflação serem elevados em 2014. A pesquisa Focus — levantamento feito pelo BC com principais instituições financeiras do país — já aponta inflação maior no ano que vem, de 5,96%. A previsão subiu pela terceira semana consecutiva.
“A acomodação do dólar no patamar de R$ 2,20 permite que os combustíveis sejam reajustados neste ano. Se ficar para 2014, a pressão sobre a inflação será maior porque os estímulos dos EUA serão reduzidos e vão provocar nova alta do dólar”, ressaltou.