O dólar comercial passou a acumular alta de 0,6% no ano, após quatro dias de valorização. Ontem, subiu 1,18% e fechou a R$ 1,88, sua maior cotação desde o fim de novembro. O Banco Central tem constantemente comprado a moeda nos últimos dias, mesmo com o fluxo cambial negativo por duas semanas e com o impulso dado à moeda americana pelo recrudescimento da crise na zona do euro
O fato é que o dólar completou o quarto pregão seguido de alta e a percepção é de que o R$ 1,90 será alcançado em breve. Ontem, a moeda subiu 1,18% e fechou a R$ 1,88, maior cotação desde o fim de novembro. Com isso, o dólar comercial passou a acumular alta de 0,60% em 2012.
Agora, vamos às versões do fato. O que teria levado a tal comportamento do real, que segue descolado dos pares emergentes, do preço das commodities e outros vetores internacionais?
Em comparação com alguns de seus principais pares externos, como o dólar canadense, o real é a única moeda que perde para o dólar no acumulado de 2012.
Para um tesoureiro, essa recente arrancada de preço é reflexo de uma nítida mudança de atuação do Banco Central (BC), que estaria, por assim dizer, mais pró-ativo. "O dólar ameaçou ir abaixo de R$ 1,82 e o BC já entrou para acabar com essa história."
Nos últimos cinco pregões foram dez compras à vista e que ocorreram mesmo com o dólar em firme alta. Para efeito de comparação, em todo o mês de março foram 12 compras à vista.
"O BC está estressando o mercado com esses dois leilões diários", diz outro tesoureiro, que acredita que as atuações mais firmes ocorrerão até que a moeda chegue à linha de R$ 1,90.
Esse R$ 1,90 é emblemático, pois, no ano passado, quando tal preço foi atingido, o BC mudou a estratégia e foi a mercado ofertar dólares via leilão de linha e swap cambial.
Mas agora em 2012, a história parece ser outra. Com a inflação mais comportada do que o previsto, o dólar poderia ir acima dessa linha sem gerar pressões inflacionárias adicionais.
Fora isso, lembra um especialista, o dólar mais alto serve ao propósito do governo, que está em meio à implementação de uma política industrial.
Nas mesas, a percepção é de que o volume segue forte, com mais de US$ 13 bilhões girando pelo interbancário nesses últimos cinco dias. No entanto, mesmo com essa grande quantidade de moeda, o cupom cambial (juro em dólar) segue apontando para cima. O cupom sobe quando falta moeda no mercado à vista.
Para alguns agentes, isso ocorre porque o BC estaria comprando dólares além do fluxo. Com isso, a sobra de moeda cai e o cupom cambial sobe.
Mais uma conversa nas mesas dá conta de que grandes empresas estariam trazendo e enviando dólares em volumes expressivos em função da necessidade de pagamento de dividendos trimestrais.
Há também os fatores técnicos, como os "stops" (ordem automática de compra/venda para interromper perdas) que foram disparados com essa puxada do dólar. No caso, o vendido é que foi "stopado", tendo de comprar moeda.
Algumas dessas percepções só serão confirmadas na próxima semana, quando os dados sobre o fluxo cambial forem atualizados.
Até o dia 13 de abril, o fluxo cambial estava negativo em US$ 799 milhões. E o BC tirou de circulação US$ 1,157 bilhão. Quem dá liquidez são os bancos, que, assim, diminuem sua posição comprada no mercado à vista.
Encerrando com os juros, o pregão foi movimentado, mas a curva não apresentou mudança significativa na jornada pré-decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Um novo corte de 0,75 ponto percentual na Selic seguiu no preço, bem como a probabilidade de 50% de uma nova redução, de 0,25 ponto, na reunião de maio do colegiado do BC.