A pressão de alta do dólar continua a dominar o cenário. Ontem o Banco Central (BC) voltou a atuar no mercado para segurar a disparada da moeda americana que, mesmo assim, fechou em alta de 0,84%, cotada a R$ 2,1660, maior patamar desde 30 de abril de 2009. A preocupação com o repasse da desvalorização do real para a inflação também teve reflexo nas taxas dos contratos futuros de juros, que também terminaram em alta.
Em entrevista ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, na sexta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que utilizará dos instrumentos que dispõe para conter a volatilidade do câmbio. "A nossa primeira linha de defesa é o câmbio flutuante. Se houver volatilidade excessiva nós vamos tirar, se tiver disfunção no mercado nós vamos entrar, vamos tirar os excessos", disse.
A reação do mercado a essas declarações foi buscar um novo teto para o câmbio ontem, como forma de testar em que nível o BC voltaria a atuar. O dólar comercial chegou a ser negociado a R$ 2,178 na máxima do dia.
O BC atuou no mercado vendendo US$ 1,957 bilhão em contratos de swap cambial tradicional (que equivale a uma venda de dólar no mercado futuro) no final da tarde de ontem.
A autoridade monetária vendeu 39.100 contratos para vencimentos em 1º de agosto e 2 de setembro, montante equivalente a 97,75% do total ofertado, mas teve que pagar um prêmio em relação à cotação do contrato de dólar futuro no momento do leilão para ter sucesso na colocação.
A última vez que o BC atuou no mercado de câmbio foi em 11 de junho, quando vendeu US$ 2,244 bilhões em dois leilões de contratos de swap cambial para os mesmos prazos. Só em junho, o BC já vendeu US$ 7,692 bilhões.
A desvalorização do real veio em linha com o movimento de fortalecimento do dólar no exterior ontem, mas a divisa caiu mais que as demais moedas emergentes, como o peso mexicano e o chileno.
O mercado de juros futuros na BM&F segue operando com um olho nos sinais do Fed e outro nas apostas sobre o tamanho do ciclo de aperto monetário no Brasil. Ontem, em um pregão de giro reduzido, as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) continuaram a marcha ascendente dos últimos pregões.
Entre os contratos com vencimentos mais longos, predomina a cautela em relação aos próximos passos do Fed, com investidores solicitando cada vez mais prêmios para operações prefixadas. O DI com vencimento em janeiro de 2017 fechou com taxa de 10,69%, ante 10,46% na sexta-feira. Na sessão estendida da bolsa, contudo, chegaram a ser negociados a 10,77%.
Os investidores aguardam o resultado da reunião do Federal Reserve (o banco central dos EUA) na quarta-feira, que pode trazer novas sinalizações sobre quando e em que ritmo o Fed deve começar a reduzir os estímulos monetários.
Ontem o mercado de juros futuros se agitou no fim da tarde com uma reportagem do jornal "Financial Times" dando conta de que o Fed daria sinais de que começaria em breve a redução dos estímulos monetários. Isso poderia desencadear uma nova rodada de rearranjo global nos mercados de renda fixa, com provável elevação dos prêmios em emergentes, como o Brasil. "Enquanto não houver clareza sobre os passos do Fed, os juros futuros seguem sob pressão", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Também contribuiu para a alta dos juros futuros o avanço do moeda americana. Há preocupação de repasse da alta do dólar para os preços internos. Como o presidente do BC disse ao Valor PRO que não dará "alívio nem trégua" à inflação, os juros futuros tendem a subir de mãos dadas com o dólar. O contrato DI com vencimento em janeiro de 2014 fechou a 8,88%, ante 8,75% na sexta-feira. No nível atual, o derivativo já embute projeção de alta de, pelo menos, 1,25 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic), para 9,25% ao ano.