BM&FBovespa é diferente de todas as outras bolsas do mundo, diz Edemir
A BM&FBovespa levará queixas sobre o estudo realizado pela consultoria Oxera sobre a eficiência do mercado brasileiro de capitais para a reunião a ser realizada com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A afirmação é do presidente da bolsa, Edemir Pinto.
A autarquia discutirá o tema em reunião do colegiado nesta sexta-feira. O encontro contará com representantes da BM&FBovespa, das plataformas de negociação concorrentes com planos de entrar no mercado brasileiro, como Direct Edge e Bats, além de representantes de associações do mercado de capitais.
A pressão sobre a BM&FBovespa aumentou após o estudo da Oxera. Em linhas gerais, o relatório aponta benefícios da introdução da concorrência no país, como uma possível redução nos preços dos serviços de negociação e pós-negociação, e impactos positivos sobre o custo do capital das companhias brasileiras.
De acordo com o presidente da BM&FBovespa, faltou aprofundamento em alguns pontos do estudo. "Em relação ao relatório da Oxera, ficamos um pouco frustrados", disse Edemir. Um dos questionamentos do executivo é em relação aos custos para intermediários, como corretores de valores, que o mercado brasileiro vai incorrer dentro de um novo desenho das bolsas. O presidente da BM&FBovespa criticou também a comparação com o mercado australiano feita no estudo.
Além disso, o executivo considera faltar também profundidade na comparação dos preços praticados pela bolsa brasileira com as bolsas internacionais. "Achamos que não houve aprofundamento por parte da Oxera, o que justifica as dificuldades que teve para fazer esse relatório", afirmou.
Edemir lembrou que a estrutura da BM&FBovespa é vertical, integrada, multimercados e negocia muitos ativos, o que faz com que seja diferente de todas as outras bolsas do mundo. "Quando se olha o custo total, nossos custos são altamente competitivos com os preços dos mercados internacionais. (...) Somos trade, clearing e depositária. O investidor lá fora paga um pouco para cada um", disse.
Ao comentar sobre a política de preços da BM&FBovespa, a Oxera avalia que os valores cobrados pela bolsa não são baixos quando comparados com outras tarifas cobradas em outros centros financeiros. "Este resultado é sustentado mesmo quando se consideram a escala de operações na Bovespa e as diferenças nos tipos de serviços fornecidos", diz o relatório.
A Oxera também critica um estudo encomendado no ano passado pela BM&FBovespa à consultoria Rosenblatt Securities, que compara os custos de negociação e pós-negociação no Brasil com os da Alemanha. Na opinião da Oxera, o estudo não "parece ser muito sólido" por fazer uma estimativa exagerada dos custos de pós-negociação na Alemanha.
Questionado sobre a concorrência em outros mercados, Edemir admitiu os planos da bolsa de passar a realizar o registro de títulos privados que também sejam negociados em mercado de balcão - no qual as operações são realizadas entre duas partes, sem a presença da chamada contraparte central, que assume o risco dos negócios. O objetivo, no entanto, não é apresentar um produto pronto, mas sim uma plataforma que permita ao cliente o desenho do produto que deseja lançar, explicou o executivo.
Isso faz com que a bolsa se transforme, indiretamente, em concorrente dos registros realizados pela Cetip, admitiu o presidente da BM&FBovespa. Isso porque a bolsa poderá passar a registrar Certificados de Depósito Bancário (CDB) e letras financeiras, por exemplo.
Edemir ponderou que o objetivo principal é permitir que as empresas sejam capazes de uma medição integrada do risco a que estão expostas, com reflexo direto nos custos da companhia. Edemir calcula que haja, por exemplo, uma economia de 25% a 40% das margens requeridas, dependendo do portfólio apresentado por cada cliente.
"Se o cliente vislumbra a possibilidade de levar uma posição para poder ter benefício de depositar menos margem por conta do risco integrado, ele poderá fazer isso. Mas não é na verdade um produto que a gente coloca para fazer concorrência direta aos produtos da Cetip", afirmou o executivo.
O objetivo do risco integrado é fazer com que os participantes levem suas operações de balcão para a companhia. Dessa forma, a BM&FBovespa poderá analisar também as operações realizadas em balcão e fazer com que isso conte na hora de chamada de margem das operações que são realizadas em bolsa.
Atualmente, há quase R$ 200 bilhões depositados como garantia no mercado brasileiro. A expectativa é que, a partir do momento em que houver o risco integrado funcionando, as garantias requeridas pela bolsa sejam reduzidas, sem que haja uma perda de segurança.