A culpa não foi só de Eike Batista, mas as empresas "X" tiveram papel relevante no estrago sofrido pela bolsa brasileira ontem. Participantes do mercado apontaram um conjunto de fatores para a onda vendedora, ou "sell off" no jargão dos operadores, que atingiu bancos, Petrobras, Vale, entre outras ações de peso, fazendo o Ibovespa mergulhar mais de 4%.
Apenas duas das 71 ações do índice sobreviveram em alta. Foi o maior tombo da bolsa desde setembro de 2011. O Ibovespa fechou pouco acima da linha dos 45 mil pontos, no pior nível em mais de quatro anos. Vendas pesadas de investidores estrangeiros e a disparada das ordens automáticas de "stop loss", para limitar as perdas, ampliaram a baixa.
Do lado macroeconômico, o mercado digeriu mal o dado de produção industrial, que mostrou queda de 2% em maio na comparação com abril. Economistas afirmaram que o número já suscita preocupações sobre o ritmo de expansão da economia neste ano.
O economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, assinalou que a probabilidade de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% neste ano aumentou bastante, frente às projeções de 3%, não sendo possível descartar uma expansão inferior a 2%, caso haja um desempenho ainda mais fraco nos próximos meses.
O risco político também voltou à tona, diante da proposta de plebiscito sugerida pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso. Operadores comentaram ainda que os diversos protestos que acontecem pelo país estão influenciando negativamente a imagem do Brasil perante o investidor estrangeiro, acentuando a aversão ao risco.
E no ambiente corporativo não se falou em outra coisa além da crise das empresas "X" e suas possíveis consequências, especialmente sobre os bancos credores de Eike Batista. Quase todos os bancos de investimento que possuem cobertura das ações do grupo revisaram drasticamente para baixo suas projeções, especialmente para OGX, que anunciou na segunda-feira a suspensão da produção de quatro campos de petróleo.
O novo "teto" para a ação da empresa de petróleo, segundo os analistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA) e do Deutsche Bank, é de R$ 0,10. Ontem, o papel despencou quase 20%, para R$ 0,45.
O BofA também chamou a atenção para a vulnerabilidade de cinco grandes bancos ao grupo "X". Pela ordem de maior exposição financeira estão: BNDES (com exposição de R$ 4,888 bilhões), Caixa (R$ 1,392 bilhão), Bradesco (R$ 1,252 bilhão), Itaú (R$ 1,235 bilhão) e BTG (R$ 649 milhões). Nada que já não se soubesse, mas o relatório ajudou a derrubar ações do setor financeiro.
"O efeito "X" está contaminando outras empresas. Acredito que os bancos credores vão acabar se tornando sócios do Eike nas empresas, tendo em vista o tamanho das dívidas", avalia o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "Além disso, a produção industrial fraca jogou por terra as atuais expectativas de crescimento da economia."
O Ibovespa perdeu 4,24%, para 45.228 pontos, com forte volume financeiro, de R$ 8,753 bilhões. Na mínima, o índice chegou aos 44.818 pontos (-5,1%). Foi a maior baixa da bolsa brasileira desde 22 de setembro de 2011, quando recuou 4,82% em único pregão. Além de renovar a mínima do ano, o índice também alcançou o menor patamar desde 22 de abril de 2009 (44.888 pontos). As ações mais relevantes caíram forte: Vale PNA (- 4,32%); Petrobras PN (- 4,76%); Itaú PN (-4,31%); e Bradesco PN (- 5,03%). Só subiram: a varejista online B2W ON (6,63%) e a rede de laboratórios Dasa ON (2,13%).
A forte queda aqui ocorreu descolada das bolsas americanas, que terminaram o dia com perdas bem mais modestas. Por lá, os investidores continuam na expectativa sobre o relatório de emprego ("payroll") que será divulgado somente na sexta-feira. O levantamento é bastante aguardado pelos investidores porque serve de base, entre outros fatores, para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidir o rumo da política monetária.
Em Wall Street, o Dow Jones recuou 0,29%, para 14.932 pontos. O Nasdaq perdeu 0,04% para 3.433 pontos, enquanto o S&P 500 teve queda de 0,06%, para 1.614 pontos. Na Europa, a bolsa de Londres recuou 0,06%, Paris declinou 0,66% e Frankfurt caiu 0,92%.