O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa) fechou ontem em queda de 1,10%, aos 55.358 pontos, com investidores vendendo ações para embolsar os lucros acumulados após seis altas seguidas, período em que mercados de todo o mundo capitalizaram a expectativa positiva gerada pelo fim do impasse fiscal nos Estados Unidos.
“Estávamos trabalhando com uma alta de quase 3 mil pontos na semana. Como não há nenhuma notícia boa para sustentar os avanços, quem ganhou dinheiro resolveu transformar os papéis em dinheiro agora”, afirmou o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt. O dia foi de realização de lucros também na Bolsa de Nova York, em que o Índice Dow Jones terminou o pregão em estabilidade, após várias sessões de alta. No fim das operações, o indicador marcava variação negativa de 0,01%.
Com o humor dos mercados sendo direcionado, nas últimas semanas, pelos conflitos partidários em Washington, é crescente o números de economistas e executivos de empresas norte-americanas que veem no comportamento dos políticos os maiores riscos ao desempenho da economia do país. As crises do orçamento e da dívida, ao lado de cortes indiscriminados de gastos públicos, têm feito o setor privado adiar investimentos, prejudicando o crescimento econômico e a geração de empregos.
Um relatório da Macroeconomic Advisers estimou que mais 1,2 milhão de norte-americanos estariam trabalhando hoje se o Congresso tivesse mantido os gastos públicos nos níveis de 2010. A empresa estimou ainda que o comportamento inconstante de Washington também elevou o desemprego, com a perda de mais 900 mil postos de trabalho.
Incerteza
“Cada vez mais, eu assumo a visão de que a razão pela qual nossa economia não pode acelerar deve-se à incerteza criada por Washington”, disse o economista-chefe da Moody"s Analytics, Mark Zandi. Ele estima que a austeridade fiscal já custou 2,25 milhões de vagas. E que, sem ela, a taxa de desemprego seria de 6,3%, em vez 7,7%.
Embora o comportamento do mercado de ações, que já voltou a ficar perto das máximas históricas, não pareça refletir essas preocupações, no mundo empresarial o que mais se ouve são queixas. “Nós temos crise após crise, e isso tem um impacto corrosivo na economia”, disse Greg Valliere, analista do Potomac Research Group. “A maioria dos executivos diz que está vendo uma desaceleração nos negócios por causa disso”, observou o presidente executivo da gestora de ativos BlackRock Inc., Laurence Fink.