A Bovespa já está entre as seis piores bolsas do mundo em termos de desempenho neste ano, segundo levantamento feito pelo Valor. O Ibovespa ponderado em dólar acumulava baixa de 10,3% em 2012 até sexta-feira (18). Só perdia para as bolsas dos países que estão no centro do furacão da crise europeia - Espanha (-25,1%), Grécia (-22,6%), Itália (-14,9%) e Portugal (-12,6%) - e também para a Argentina (-16,7%). Outros mercados emergentes, tais como o Brasil, apresentam comportamento mais ameno: Rússia perde 6,7%, México sobe 1,3%, Índia ganha 1,5% e China avança 7,8%.
"É claro que não há aqui uma crise de dívida soberana como na Europa", tranquiliza o estrategista de renda variável do Credit Suisse para América Latina, Andrew Campbell. "O câmbio é o principal fator que explica essa queda da Bovespa. O real já se desvalorizou 8% frente ao dólar neste ano, bem mais dos que outras moedas emergentes."
Além de apontar o efeito cambial ao se ajustar o Ibovespa para permitir a comparação com outros índices acionários pelo mundo, Campbell cita outra questão fundamental: o crescimento econômico. "O que temos aqui é uma combinação dos efeitos da desaceleração da economia global com a perspectiva de crescimento menor do Brasil neste ano."
O estrategista do Credit Suisse lembra que as principais empresas da Bovespa - Vale, Petrobras, OGX e as siderúrgicas - são produtoras de commodities e, portanto, estão sujeitas à oscilação de preços e de demanda desses produtos no mercado internacional. "A piora do crescimento global afeta diretamente petróleo e mineração."
Campbell ressalta ainda a redução na perspectiva de crescimento da economia brasileira para este ano, o que afeta as projeções de resultado das companhias listadas em bolsa que possuem maior exposição ao consumo doméstico. "Recentemente reduzimos nossa projeção do PIB brasileiro em 2012 para 2,5%. Agora já vemos risco de o país não conseguir crescer nem isso."
Dois setores de peso no Ibovespa, o bancário e o de construção, também vivem uma fase bastante ruim, e intensificam o movimento de baixa da bolsa brasileira, acrescenta o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. "Os bancos estão sofrendo com o aumento da inadimplência e a pressão do governo para redução dos spreads. O setor de construção tem apresentado resultados muito fracos, além de despesas e ajustes extraordinários no balanço", diz.
E para quem acha que a Bovespa já caiu tudo o que poderia, a equipe de análise do J.P. Morgan faz um alerta: ainda há espaço para a bolsa recuar mais 6%, considerando um histórico de 26 correções e colapsos sofridos pelo Ibovespa desde 1994. "A atual venda generalizada das ações é mais do que uma correção, mas não sabemos ainda se constitui um "crash"", observa a analista Emy Chayo, em relatório distribuído na sexta-feira aos seus clientes. O banco destaca que a tendência negativa da bolsa brasileira supera a média dos países emergentes.
De toda forma, os analistas são unânimes: o mercado continuará sofrendo nos próximos 30 dias, com algumas altas pontuais, até que saia o resultado das novas eleições na Grécia.
Para o professor de finanças da escola de negócios suíça IMD, Arturo Bris, a Grécia não deixará o euro e a moeda comum europeia não vai desaparecer. O mercado verá, nas próximas semanas, uma atuação maciça do Banco Central Europeu (BCE) para estancar o sangramento grego, diz.
Na visão dele, a saída de qualquer país do bloco comum seria a morte da moeda. No caso grego, provocaria efeitos colaterais na Espanha e Itália, cujos títulos são detidos em grande volume pela Alemanha. Ou seja, o castelo de cartas ruiria.
Bris comenta ainda que, no momento, outros países do bloco teriam mais motivos para deixar a união: Finlândia, Áustria e mesmo a Holanda. Para esses países, os ganhos com a moeda comum não estão claros, afirma.
E depois de oito baixas consecutivas, algo que não era visto desde a semana dos atentados de 11 de setembro de 2001, a Bovespa passou por leve correção na sexta, um "repique" na linguagem do mercado. A véspera do vencimento de opções sobre ações, que acontece nesta segunda-feira, acrescentou volatilidade aos negócios e impulsionou Petrobras PN (3,47%), Vale PNA (2,64%) e OGX ON (5,10%).
O Ibovespa fechou em alta de 0,88%, aos 54.513 pontos, com volume de R$ 8,951 bilhões. Desta forma, o índice acumulou perda de 8,3% na semana, a pior desde agosto de 2011. Em maio, o recuo da bolsa chega a 11,8%, maior queda desde outubro de 2008, auge da crise financeira.