A crise na Europa continua falando mais alto do que qualquer fundamento das empresas listadas na Bovespa. Nesta terça-feira, a agenda política do continente domina as atenções, com a posse do novo presidente da França, François Hollande. Na sequência, ele terá seu primeiro compromisso no cargo, uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim. O futuro da zona do euro e a crise da Grécia estarão na pauta do encontro.
Ontem, o nervosismo foi mais intenso na bolsa brasileira do que nos mercados internacionais, o que fez o Ibovespa retornar ao patamar do fim de 2011 e praticamente zerar os ganhos neste ano. Embora a crise europeia seja o principal fator de preocupação dos investidores, o comportamento pessimista do mercado foi intensificado por critérios da análise gráfica, que fizeram disparar mecanismos para conter prejuízos maiores.
De uma tacada só, o Ibovespa perdeu os 59 mil e os 58 mil pontos, o que fez disparar ordens de "stop loss" (venda a qualquer preço para limitar perdas) de alguns investidores. Agregue-se a isso a temporada de balanços do primeiro trimestre, que trouxe números desapontadores, principalmente entre as empresas do setor de construção.
O Ibovespa fechou em baixa de 3,21%, aos 57.539 pontos, praticamente na pontuação mínima do dia e no menor nível do ano, atrás apenas da marca do último pregão de 2011 (29 de dezembro), quando o índice marcou 56.754 pontos. Em termos percentuais, foi o maior tombo da bolsa desde 22 de setembro de 2011, quando recuou 4,83%. Com isso, o índice já perde 6,9% em maio, enquanto o ganho acumulado no ano caiu para apenas 1,4%, que pode ser facilmente anulado no pregão de hoje.
"O cenário externo continua incerto, o que faz as pessoas fugirem do risco", avalia o gestor de renda variável da Mercatto, José Luiz Garcia. "O Ibovespa perdeu suportes gráficos importantes, o que provocou esse movimento de desespero." Do ponto de vista gráfico, explica o analista técnico da Mycap, homebroker da Icap Brasil, Raphael Figueredo, o Ibovespa "passou batido" pelo suporte de 58.800 pontos e agora segue rumo aos 56 mil pontos. "O movimento de baixa do Ibovespa ganhou impulsão no pregão de ontem, reforçando a tendência de queda."
Entre as ações mais negociadas, Petrobras PN caiu 2,22%, para R$ 18,90; Vale PNA fechou em baixa de 1,68%, a R$ 37,36; e OGX ON perdeu 3,97%, para R$ 13,05. Apenas duas ações do índice resistiram em alta: Ambev PN (0,31%, a R$ 77,24) e Souza Cruz ON (0,03%, a R$ 27,68).
Já o setor de construção liderou de longe as perdas, com Brookfield ON afundando 14,86%, para R$ 4,18; seguida de PDG Realty ON, que perdeu 10,15%, para R$ 4,07, e com forte volume de R$ 233 milhões; e Rossi Residencial ON (-9,51%, a R$ 6,47).
A Brookfield registrou redução de 94% no lucro do primeiro trimestre, para R$ 3,9 milhões. Segundo a empresa, a alta nos custos operacionais e despesas gerais e administrativas, bem como o avanço dos distratos prejudicaram o resultado. Em teleconferência, o presidente da Brookfield, Nicholas Reade, garantiu que a operação continua forte, apesar de os indicadores financeiros registrados virem bem abaixo do ano passado.