Após auge da crise, PIB do país se recupera com trajetória em "U". Economia americana tem avanço em "W"
Depois de uma reação muito semelhante logo após a crise de 2008, quando registraram uma recuperação em "V", Brasil, EUA, zona do euro e China agora seguem caminhos diversos. Cada região aponta para uma recuperação num formato diferente, em letrinhas conhecidas como "V", "W", "U" e até "L". Por aqui, começam sinais de retomada num ritmo maior de crescimento, o que sugere uma recuperação em "U". Nos EUA, por sua vez, há indicação de que a economia se recupera de seu segundo mergulho, configurando um "W". No cenário mais grave entre as quatro regiões, o conjunto de 17 países da moeda única europeia vê sua economia encolher e, na melhor das hipóteses, pode chegar a um desempenho em "L". Já o país asiático retomou sua trajetória de crescimento, ainda que a uma velocidade inferior ao que registrava antes da turbulência de 2008.
- Durante a crise, esses países tiveram uma piora abrupta, mas também uma melhora rápida, o que é conhecido como o "V". Agora, cada um tem desempenho diferente - afirma o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto.
Crise de caráter crônico
As diferentes letrinhas pressupõe ritmos diferentes de recuperação da economia, de acordo com o formato que aparece nos gráficos da taxa de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) em determinado trimestre, frente a igual período do ano anterior. O "V" é uma recuperação mais vigorosa, enquanto o "U" sugere um desempenho mais frágil e lento. Já o "W" é também conhecido como um duplo mergulho: a economia se recupera para em seguida registrar nova queda em seu desempenho.
- O que vemos nas quatro regiões é uma mutação. A crise deixou de ter um caráter agudo para se tornar algo mais crônico - diz o economista Otaviano Canuto, assessor sênior do Banco Mundial para os Brics.
Pelo gráfico, as altas do PIB brasileiro de 0,9% no terceiro trimestre e de 1,4% no quarto trimestre de 2012 já apontam um desenho de "U", segundo Silvio Campos Neto, que se torna ainda mais claro se for incluída a projeção da Tendências de avanço de 2,3% no primeiro trimestre:
- Os sinais são de melhora da economia no primeiro trimestre. Há dados da indústria e esperamos que a Formação Bruta de Capital Fixo (indicador de investimento) avance 4,5%, a primeira variação positiva na comparação anual desde o quarto trimestre de 2011.
Canuto reconhece que há sinais de recuperação no Brasil frente aos últimos dois anos, mas afirma que essa pequena elevação desde o fim do ano passado não levará o Brasil de volta ao padrão acelerado de crescimento pré-crise.
- A crise marcou o fim de um padrão de crescimento, que nas economias avançadas foi com endividamento, enquanto o Brasil acompanhou a onda com preços elevados de commodities, que permitiram ampliação de consumo e acesso a crédito. Se não avançarmos para um novo padrão de crescimento, que inclua investimentos em infraestrutura, aumento de produtividade da indústria e melhoria do ambiente de negócios, dificilmente voltaremos a crescer acima de 3,5% - diz Canuto.
Na sua avaliação, a expansão de 7,5% em 2010 pode ser explicada tanto por uma base fraca de 2009 quanto por um adiantamento de desempenho de anos posteriores, como no caso de crédito para famílias.
O professor do Instituto de Economia da UFRJ Reinaldo Gonçalves vê com preocupação o atual momento da economia brasileira e diz que a retomada pode não ser sustentável:
- O Brasil não deve ter uma curva em "U". A linha chega a subir, mas não completa. Talvez seja um J deitado. O país depende muito dos preços das commodities, da economia mundial e dos fluxos financeiros.
Gonçalves avalia que o endividamento alto pode provocar uma reavaliação da situação brasileira e levar à saída de capitais. Além disso, os investimentos podem ser comprometidos com a perspectiva de queda no preço de commodities :
- O cenário mais provável é que nos próximos anos o mundo volte para os trilhos devagar, ajudado por EUA e Japão, enquanto a Europa se arrasta, mas o Brasil corre riscos.
Europa no fim da fila
Na ordem de recuperação, no entanto, a Europa deve ocupar os últimos lugares da fila. Os países da região enfrentam taxas de desemprego elevadas, especialmente entre jovens, e retração da economia. Para Campos Neto, o desempenho da zona do euro no gráfico se assemelha a um "L", com uma queda no ritmo da economia e depois estabilidade. Mas há quem discorde.
- A renda na Europa está diminuindo, o PIB está decrescendo, a situação continua piorando. Se houver estabilização, pode chegar a virar um "L". Com o alívio das metas fiscais, a tendência é estabilização em torno de zero - defende Canuto.
Ele alerta que o quadro de estagnação prolongada da zona do euro pode trazer riscos ainda mais sérios para esses países, como deterioração social e pobreza.
Nos EUA, a recuperação anda a um ritmo perto dos 2%. Com isso, o formato que se vislumbra é de um "W", o que indica melhora. Para o economista da Tendências, a expectativa é que o crescimento americano se mantenha neste patamar, com ligeira tendência de melhora em 2014 à medida que os efeitos da contração fiscal diminuírem.
- A questão nos EUA é que o crescimento em torno de 2% não tem sido suficiente para reduzir a taxa de desemprego. Os setores que estão puxando as vagas são diferentes dos que se destacavam antes da crise - explica Canuto.