O Brasil e o México, países com abordagens diferentes de comércio exterior, serão protagonistas na disputa pela direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que deverá estar decidida dentro de duas semanas.
O próximo diretor-geral dessa entidade chave da governança global será um latino-americano - o brasileiro Roberto Azevedo ou o mexicano Hermínio Blanco, como antecipado ontem pelo Valor PRO, o serviço em tempo real do Valor. A OMC anunciará hoje que os dois foram os preferidos pela maioria dos 159 países membros para a etapa final, que ocorrerá de 1º a 7 de maio. Estão eliminados os candidatos da Indonésia, Coreia do Sul e Nova Zelândia
A escolha dos latinos foi pavimentada na terça-feira, quando a União Europeia resolveu apostar no Brasil e no México, preterindo os três candidatos da Ásia.
Os europeus vão agora ter de decidir se concentram o apoio num dos latinos, ou racham e cada país do bloco comunitário vota como quiser - evitando assim fricções com Brasil ou com México.
Com a Ásia-Pacífico fora da disputa, China e Índia têm mais margem para apoiar o candidato brasileiro, em nome da aliança no grupo dos Brics. Os mexicanos preferem acreditar que Pequim, maior nação comerciante do mundo, pode querer apostar no que consideram seu candidato mais liberal.
Os contrastes são evidentes nos atores da disputa final na OMC. Primeiro, entre os dois candidatos. Roberto Azevedo é um negociador reconhecido, com credibilidade e muito trânsito entre países em desenvolvimento e igualmente trânsito nos países desenvolvidos, algo essencial para construir consenso e arrancar acordos na OMC. Seu nome passa bem mais facilmente por diferentes grupos de países e regiões, o que faz analistas ouvidos ontem pela agência Reuters colocá-lo como favorito para o posto.
Hermínio Blanco, formado na Universidade de Chicago, berço do monetarismo, é reconhecido pela chefia mexicana das negociações no Nafta (acordo entre México, Estados Unidos e Canadá). Mas seu estilo duro, professoral e com uma ponta de arrogância causa aversão em certas delegações. Ele chega à final graças a um apoio firme de países desenvolvidos, acreditam observadores.
Também é claro o contraste entre os dois países e sua imagem no mundo. O Brasil, uma das "economias baleias" do mundo, salienta a importância de espaço para políticas nacionais e proteção, e martela o compromisso com o mundo em desenvolvimento na cena internacional. No comércio, o Brasil é um "player global".
A candidatura de Blanco tem sido apresentada como um projeto do novo governo do México para moldar nova imagem do país em escala internacional.
Apesar de seu estágio em desenvolvimento, violência e problemas enormes de drogas, a percepção é de mais vínculos do México com o mundo desenvolvido. É membro e comanda a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O país se apresenta como mais aberto ao mundo. Na prática, tem um comércio altamente concentrado e dependente do vizinho americano: 80% das exportações mexicanas vão para os Estados Unidos.
"Essa é uma briga que vai deixar sangue na parede", exagera um negociador em Genebra, mas que reflete o que alguns pensam sobre os movimentos que as duas diplomacias poderão fazer para conquistar o posto da OMC.
O nome do novo diretor do organismo deverá ser conhecido no dia 8 de maio. Até lá, as duas diplomacias vão agir rápido para obter ou consolidar apoios.