Janeiro deve ser o terceiro mês consecutivo de entrada líquida de capital externo na bolsa de valores brasileira. Até o dia 24, o saldo do investimento estrangeiro era positivo em R$ 3,9 bilhões, superando os R$ 3,7 bilhões de dezembro e muito acima dos R$ 533,9 milhões de novembro. Historicamente, o Índice Bovespa sobe quando o capital externo desembarca para valer no país. Por ora, essa tendência ainda não se confirma - até ontem, a Bolsa caiu 0,90% este mês.
Segundo Walter Mendes, sócio da Cultinvest, é cedo para falar em uma avalanche de recursos estrangeiros para a bolsa brasileira. O fluxo recente, diz Mendes, espelha mais um aumento geral do apetite por ações de países emergentes do que uma convicção de que haverá um desempenho robusto da Bovespa. E mesmo assim o Brasil está ficando com uma parcela muito pequena de recursos em comparação a outros países.
Janeiro tem tudo para terminar como o terceiro mês consecutivo de entrada líquida (aplicações menos saques) de capital externo na bolsa brasileira. Até o dia 24 deste mês (último dado disponível), o saldo do investimento estrangeiro era positivo em R$ 3,9 bilhões, superando os R$ 3,7 bilhões de dezembro e anos-luz dos R$ 533,9 milhões de novembro. E tem mais: à exceção do dia 21 de janeiro, o saldo tem sido positivo em todos os pregões desde 10 de dezembro.
Diante dos números, fica a pergunta: o investidor estrangeiro, arredio na maior parte do ano passado, voltou a se apaixonar pela bolsa doméstica? Como historicamente o Índice Bovespa sobe quando o capital externo desembarca para valer por aqui, a resposta pode servir de guia para o comportamento do principal termômetro da bolsa. Se o capital externo continuar acorrendo ao Brasil nos próximos meses, é muito provável que a bolsa avance.
Por ora, segundo especialistas ouvidos pelo Valor, a relação dos investidores estrangeiros com o Brasil está mais para namoro de ocasião do que casamento. E a pessoa física que pensa em pegar carona em uma possível valorização do índice, no embalo do fluxo externo, deve se acautelar.
Segundo Walter Mendes, sócio da Cultinvest e um dos mais experientes gestores de ações do país, é cedo para falar em uma avalanche de recursos estrangeiros para a bolsa. O fluxo recente, afirma Mendes, espelha mais um aumento geral do apetite por ações de emergentes do que uma convicção de que haverá um desempenho robusto do mercado acionário doméstico. "Está vindo dinheiro para o Brasil, mas uma parcela muito pequena em comparação a outros emergentes", afirma.
De fato, lá fora, saíram de cena os três temores que assombravam os mercados: os Estados Unidos contornaram o abismo fiscal, escapando de uma recaída na recessão; a Europa deixou para trás o fantasma da quebradeira e ruptura do euro; e a China caminha para um pouso suave, com perspectiva de manter o ritmo de crescimento ao redor de 8%. Um bom exemplo dessa melhora do ambiente externo é o comportamento do VIX, da bolsa de derivativos Chicago, nos Estados Unidos. Conhecido com índice do pânico, o indicador recuou 26,77% em 12 meses até o dia 28.
O resultado do desafogo lá fora foi um aumento do apetite por ativos de risco. "E tomar risco é comprar ações de mercados emergentes", afirma Leonardo Milane, estrategista para a pessoa física da Santander Corretora. "No processo de diversificação entre vários emergentes, vem dinheiro para o Brasil. Mas o fato é que os gestores estão apostando mais as fichas em outros mercados, como México e China", diz.
De fato, alguns dados indicam que a bolsa brasileira está longe de ser o destino preferencial dos estrangeiros. Pior: tornou-se um dos lanterninhas entre os mercados emergentes. Neste ano, até o dia 28, entre 15 bolsas de países emergentes o Brasil tem o segundo pior desempenho, com queda de 1,52% em dólar. Em 12 meses, amarga a lanterna, com queda acumulada de 4,57% (veja gráfico nesta página).
Para que a BM&FBovespa vire o jogo ou pelo menos passe a receber mais recursos, é preciso, dizem os especialistas, que a economia brasileira não desaponte este ano. "O crescimento do lucro das empresas da bolsa tem sido medíocre. Os analistas estimavam no início do ano passado uma alta entre 15% e 20% dos lucros em 2012, mas os resultados decepcionaram", afirma Mendes, da Cultinvest. "Se o Brasil estivesse com nível de atividade acelerado e inflação menor, o fluxo de investimento estrangeiro seria muito maior. O problema é que as expectativas só pioram", diz Milane, da Santander Corretora, em referência ao boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC).
Segundo o Focus, compilado com as estimativas de mais de 100 economistas, as projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foram reduzidas nas últimas quatro semanas, de 3,30% para 3,10%. No mesmo período, a estimativa para o IPCA subiu de 5,47% para 5,67%. Se a maré das expectativas não virar, dificilmente o fluxo de capital estrangeiro vai se acelerar na magnitude necessária para sustentar uma valorização expressiva do Ibovespa, dizem os especialistas. "Esse fluxo só vai vir com mais força se houver indicação de que o Brasil pode crescer entre 3,5% e 4% este ano", diz Mendes, da Cultinvest.
Somam-se à falta de fôlego da economia alguns problemas específicos em setores nos quais o estrangeiro tradicionalmente investe, afirma Mendes. É o caso dos papéis de construção civil, cujas empresas sofreram com estouro de custos, e de siderúrgicas, castigadas pela competição com os importados. Outro ponto é a forte intervenção do governo no mercado cambial, o que tira do investidor estrangeiro a possibilidade de ganhar em duas pontas, com a valorização das ações e apreciação do real. "Antes, era tudo mais previsível. O dinheiro externo entrava e o dólar caía. Agora, com o governo administrando o dólar, ninguém sabe o que vai acontecer, o que prejudica a bolsa", diz.
Além do crescimento vacilante, a bolsa brasileira padece com o aumento da incerteza em relação às regras do jogo, afirmam os analistas. Episódios como o pacote elétrico para redução de tarifas de energia, a guerra dos "spreads" bancários e a discussão em torno do reajuste de preços dos combustíveis. "O governo começou a intervir mais diretamente em alguns setores, o que aumentou o grau de incertezas. Isso prejudica o Brasil em relação aos outros emergentes", afirma Luis Carrillo, gestor responsável pelo grupo de renda variável na América Latina do banco J.P Morgan. "Sem lucros fortes das empresas e com esta incerteza, não há mesmo como o Brasil se destacar e atrair mais recursos".