O volume de recursos que deve entrar no Brasil a partir deste mês até dezembro, inclusive via captações externas, poderá pressionar o dólar para baixo nos próximos meses, mas a vigilância permanente do governo limitará uma apreciação mais forte do real, dizem profissionais de mercado. Dessa forma, por enquanto, as esperadas entradas de recursos pouco alteram o cenário de um dólar cotado em torno de R$ 2,00 no fim deste ano.
Segundo economistas, ainda que o país experimente um ritmo mais intenso de entradas até dezembro, esse volume ainda ficará aquém do observado no primeiro trimestre, o que por si traz menos estímulos à valorização da moeda brasileira. E ainda que os ingressos surpreendam para cima, o Banco Central deverá atuar enxugando as sobras de liquidez, evitando uma pressão adicional de queda sobre o dólar.
"A Fazenda já falou que o dólar a R$ 2,00 é razoável para a atividade. Até o BC citou esse nível como de equilíbrio. Essa postura do governo deixa claro que esse patamar será defendido, principalmente se houver um fluxo além do esperado nos próximos meses", diz o estrategista para mercado do Banco Indusval & Partners, Daniel Moreli Rocha.
Rocha prevê que o fluxo cambial fique positivo em US$ 10 bilhões entre setembro e dezembro, menos da metade dos US$ 25,316 bilhões que ingressaram no país em termos líquidos nos primeiros quatro meses do ano. Ainda assim, com base nessa estimativa, o fluxo cambial terminaria o ano positivo em US$ 31,672 bilhões, quarto maior saldo da série histórica do Banco Central, iniciada em 1982. Ao mesmo tempo, o estrategista estima que o dólar termine dezembro em R$ 2,02.
Para o gerente de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues, o próprio mercado "se acostumou" a trabalhar com o dólar entre R$ 2,00 e R$ 2,10, independentemente de um movimento intenso no fluxo. "O mercado acha que sempre vai voltar para esse patamar e, para não ser pego de surpresa, acaba puxando a taxa para dentro desse intervalo", afirma.
Nesse sentido, Rodrigues avalia que as entradas de dólares teriam de ser "bastante acima do esperado" para surtir algum efeito na taxa de câmbio. "Só que esse cenário não está no radar. O clima lá fora melhorou, mas ainda está longe de um quadro otimista, e isso inibe um fluxo positivo maior", diz.
Já o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, acredita em um impacto mais significativo dos ingressos de recursos sobre a taxa de câmbio nos próximos meses. Para ele, a aceleração do crescimento econômico brasileiro vai favorecer um fluxo cambial positivo da ordem de US$ 8 bilhões entre setembro e dezembro, o que elevaria o saldo positivo no fechamento de 2012 a US$ 29,672 bilhões.
Esse fluxo ainda por vir, na visão de Padovani, derrubará o dólar para o intervalo entre R$ 1,90 e R$ 1,95. "Há uma questão sazonal obviamente envolvida, mas conforme a economia brasileira se recuperar nesses próximos meses e o ambiente de liquidez elevada no exterior permanecer, vamos ver um volume razoável de recursos ingressando ao Brasil e isso vai ter impacto na taxa de câmbio."
O economista pondera, no entanto, que ainda que haja uma "euforia" inicial, o volume de captações e o fluxo cambial de modo geral serão bem menores neste semestre do que nos primeiros seis meses do ano.
Segundo ele, essa expectativa corrobora a visão de que a tendência de valorização do real a partir de agora será moderada e continuará suavizada por intervenções do governo. "Caminhamos para uma apreciação, mas dificilmente veremos um movimento como o ocorrido nos últimos dez anos. Os fundamentos ainda favorecem o real, mas o receio de uma intervenção do governo faz preço e limita uma queda (do dólar) mais acentuada."
Nos quatro primeiros meses do ano, quando o Brasil registrou fluxo positivo de US$ 25,316 bilhões, o BC comprou nos mercados à vista e a termo o equivalente a US$ 18,094 bilhões (considerando operações liquidadas no período). No mercado futuro, a autoridade monetária comprou mais US$ 3,755 bilhões.