Com a bolsa em forte queda, os fundos de melhor desempenho em junho, atrás apenas das pouco populares carteiras cambiais, são os DI. Eles alcançam o topo do ranking com tímido 0,5% até o dia 21. Ainda na renda fixa, os fundos de inflação - melhor aplicação em 2012 com ganho de 21,71% - perdem em média 5% neste ano, sendo 2,9% somente em junho, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O investidor que olhou para o retrovisor no começo do ano e optou pelos fundos de inflação poderia ficar tentado a correr agora para o conforto dos fundos DI. Seria um segundo erro, dizem os gestores.
"Quem entrou em fundos de inflação no início do ano amargou perdas que não se reverteram e nem sei se vão se reverter", diz Rogério Braga, chefe de renda fixa e multimercados da gestora Quantitas. As expectativas de juros mais altos no Brasil, diz, fazem parte de uma nova conjuntura global. O ciclo doméstico de alta da taxa, iniciado em abril - e até alavancado por uma elevação dos juros dos papéis do Tesouro americano -, trouxe perdas há muito não vistas às NTN-Bs. Esses títulos, que pagam uma taxa prefixada mais a inflação, perderam muito valor e levaram com eles as carteiras do tipo renda fixa índices, que compram esses papéis.
A taxa prefixada das NTN-Bs subiu de forma expressiva desde maio. Ontem, esses papéis entregavam taxa real superior a 4,2% para o menor prazo, chegando a 5,45% para o vencimento mais distante, de 2050. Diante da recuperação nos prêmios, os gestores voltaram às compras nas últimas semanas, ainda que de forma gradual. Agora, sim, é o momento de entrar em fundos de inflação, diz Braga. "O investidor pode até ter um pouco mais de perda no curto prazo, mas agora está entrando em um patamar de juros mais confortável", afirma.
A taxa das NTN-Bs, que reflete a expectativa do mercado para os juros, já precifica bem o combate do Banco Central brasileiro à inflação. "O que poderia causar um novo estresse é um ritmo mais forte de retirada de estímulos à economia americana, mas não achamos que esse seja o cenário básico", diz Braga. Se a alta recente da taxa tiver sido exagerada, como o gestor acha que pode ter acontecido, em algum momento ela deve começar a cair. Quando isso acontecer, os investidores dessas carteiras voltarão a ganhar.
Ainda que pareçam também oferecer prêmios, os títulos prefixados - LTNs e NTN-Fs - parecem menos atraentes na opinião do gestor da Quantitas. Esses papéis costumam rechear as carteiras do tipo renda fixa, que perdem 0,08% em junho, até 21, mas ganham 2,40% no ano. Braga prefere as NTN-Bs, que contam com o componente de variação do nível de preços. "Eu não ficaria desprotegido de inflação nesse período", diz.
O período é de ajustes, mas deve ser aproveitado também na opinião de Marcos Paolozzi, diretor de renda fixa e multimercados da gestora do Fator. "Os próximos três a seis meses vão oferecer grandes oportunidades de alocação", afirma. No momento, a gestora busca avaliar até onde vai a alta dos juros nos papéis do Tesouro americano e qual é o impacto sobre a taxa brasileira de cada ponto percentual adicionado nos papéis americanos. "Não sabemos qual é o ponto de equilíbrio e achamos que ainda estamos na metade do processo", afirma Paolozzi. Ou seja, mais volatilidade à vista.
Mesmo diante da perspectiva de flutuações, a gestora do Fator, que vinha reduzindo a exposição em NTN-Bs, voltou a comprar os títulos em junho. "A taxa chegou a um nível em que já começamos a ver valor para posicionamento", diz Paolozzi. Para ele, há também oportunidades nos papéis prefixados, especialmente nos de vencimentos mais distantes. Consideradas as declarações recentes do governo, mais contundentes no combate à inflação, pode ser que o prêmio embutido nesses papéis esteja alto demais, o que favorece o aplicador.
A perspectiva de ganhos melhores é um alento ao investidor. Os retornos médios até 21 de junho, dado mais recente da Anbima, mostram um mês bastante ruim para todas as categorias de fundos. Fora da renda fixa e dos cambiais, impulsionados pela valorização de 6,21% do dólar no mês, apenas as carteiras do tipo "long and short" estão no campo positivo em junho. Os gestores dessas carteiras aproveitam a volatilidade para fazer arbitragem entre os preços dos ativos. Mesmo assim, o ganho dessas carteiras não passa de 0,15% no mês.
No ano, o ganho dos fundos long and short direcionais, que apostam em um sentido para a bolsa, é de 5,18%, atrás apenas das carteiras cambiais, com ganho de 9,89%.