O mês de agosto vem mostrando uma tendência de recuperação dos mercados de ações emergentes, o Brasil entre eles, em detrimento dos desenvolvidos. O Ibovespa subiu por oito pregões seguidos e, em alguns desses dias, as bolsas em Nova York cravaram quedas consistentes. As ações de empresas que vendem commodities têm sido destaque de alta, num ciclo de ganhos que começou no meio da semana retrasada, após dados melhores da China. Vale PNA, por exemplo, já avançou 14,3% neste mês.
Em julho, os investidores estiveram otimistas com Wall Street. O índice Dow Jones subiu 4%, o S&P; 500 ganhou 4,9%, enquanto o Ibovespa avançou 1,6% e a bolsa do México valorizou 2,2%. Em agosto, o quadro passou a ser mais favorável aos emergentes. Enquanto o Ibovespa sobe 6,8% e o México ganha 3% neste mês até sexta-feira (16), Nova York virou. Dow Jones cai 2,7% e S&P; 500 perde 1,7%. O analista técnico Raphael Figueredo, da Clear Corretora, diz que o Ibovespa segue em viés de alta no curto prazo. Um marco para uma tendência positiva a médio prazo será o nível de 52.200 pontos. Na visão dele, a força das principais blue chips tem ajudado na recuperação. "Vale sobe desde a divulgação do balanço e Petrobras se reafirma. Isso trouxe mais confiança e mais fluxo para a bolsa." A Bovespa chegou à sua oitava alta consecutiva na sexta-feira, véspera de vencimento de opções sobre ações, embalada principalmente pelas ações das exportadoras, que pegaram carona na disparada do dólar. OGX ON (6,34%) e Vale PNA (1,96%) também colaboraram, já sob efeito da briga do vencimento de hoje. Petrobras PN (-0,28%) terminou de lado, após o salto de quinta-feira, quando reagiu a especulações sobre reajuste da gasolina e possível redução de sua participação obrigatória nos blocos de exploração do pré-sal. O destaque negativo do dia foi Itaú Unibanco PN (-2,04%). O banco informou na sexta que recebeu em 25 de junho um auto de infração da Receita Federal de R$ 18,7 bilhões, em um processo que questiona a forma como a fusão entre Itaú e Unibanco foi feita em 2008. Para a Receita, o banco deve R$ 11,8 bilhões em Imposto de Renda e outros R$ 6,7 bilhões em Contribuição Social sobre Lucro Líquido (ver reportagem na página C14). O Ibovespa fechou em alta de 1,24%, aos 51.538 pontos, com volume financeiro de R$ 8,731 bilhões. Desde 16 de janeiro de 2012 a bolsa não registrava uma sequência de oito altas. Nesse período, o índice se valorizou 8,7%. Na semana passada, o ganho foi de 3,3%. A alta no mês alcança 6,8%. No ano, no entanto, a Bovespa segue no topo da lista de piores bolsas do mundo, com perda nominal de 15,5%. Em dólar, o tombo é ainda maior, de 27%. A segunda pior bolsa é a do Chile, com recuo de 18,6% em dólar, seguida pela Índia (-15,8%) e Rússia (-13,5%). A depreciação do real em relação ao dólar é negativa no curto prazo, mas positiva no médio prazo para as empresas brasileiras, diz o Bank of America Merrill Lynch (BofA). Em relatório sobre a safra de balanços do segundo trimestre, o banco estima potencial de alta de 7% para ações, em caso de 10% de depreciação do real no ano. O banco afirma que as previsões para o segundo semestre são desafiadoras. A economia pode continuar a desacelerar, dizem os analistas Felipe Hirai e Marina Valle, o que pode levar a rebaixamentos de lucros, especialmente em função do câmbio. Eles comentam que para lucros, especificamente, o consenso de mercado ainda embute forte aumento na segunda metade do ano. Telecomunicações, empresas de energia e de consumo ainda são os setores com maior risco de redução nos resultados. Na lista de maiores altas do Ibovespa na sexta-feira predominaram justamente as empresas exportadoras ou cujos produtos são referenciados no dólar, como aço e papel e celulose: Fibria ON (8,17%), CSN ON (7,05%), Gerdau PN (6,62%), Suzano PN (6,14%), Usiminas PNA (4,66%), além da fabricante de aviões Embraer PN (4,45%). Já a ponta negativa do Ibovespa trouxe duas empresas ligadas ao varejo: a administradora de shoppings BR Malls ON (- 4,21%) e Lojas Renner ON (- 3,33%). Na semana passada, o BofA também divulgou relatório cortando o preço-alvo das ações da Renner, de R$ 80 para R$ 71, com recomendação neutra. Os analistas da instituição apontaram a desaceleração das vendas. Eles sugeriram cautela aos investidores do setor devido à tendência de redução na demanda por parte dos consumidores. Outro destaque negativo do dia foi LLX ON (- 4,19%). Os papéis da companhia de logística tiveram uma correção modesta se comparada à alta acumulada na semana, de 57%. A LLX anunciou a entrada em seu capital do fundo americano EIG, que fará um aporte de R$ 1,3 bilhão e assumirá o controle da empresa. O atual controlador, o empresário Eike Batista, permanecerá na LLX como acionista minoritário com fatia relevante.