O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Aldo Mendes, disse na segunda-feira que ainda há "um pouco de gordura na nossa taxa de câmbio". Desde então, uma pergunta ronda as mesas de operação: "Quanta gordura há na taxa de câmbio?" - ou seja, até que preço o dólar pode recuar sem que o BC volte a atuar na ponta compra.
A MCM Consultores se propôs tentar descobrir essa gordura no dólar e atualizou o modelo para a taxa real de câmbio de equilíbrio, levando em conta vários fundamentos econômicos. Entre eles passivo externo líquido, termos de troca e diferencial de juro real doméstico e externo.
"Nossos resultados sugerem que a relação real/dólar ainda está cerca de 7,5% acima do valor de "equilíbrio". Em outras palavras, o dólar deveria estar ao redor de R$ 1,93", aponta o estudo da MCM.
A consultoria pondera que esse preço não interessa aos membros da equipe econômica. A MCM lembra que o próprio Aldo Mendes disse, no início de junho, que o dólar acima de R$ 2,00 seria positivo para a indústria.
As recentes intervenções do BC, somadas às declarações de Mendes e do presidente da autarquia, Alexandre Tombini, "dois dos mais importantes membros do Copom", indicam que o mercado não testará o patamar de R$ 2,15 por algum tempo, diz a MCM.
Ontem, por exemplo, a decisão do Fed de manter a política de estímulo monetário levou o dólar a fechar em queda, caindo 0,14% a R$ 2,075. Ainda assim, para alguns agentes, o anúncio não terá impacto prolongado sobre o câmbio.
"Talvez em um curto espaço de tempo, o mercado reaja à decisão, antecipando esta ação junto com as atuações do BC, e o dólar recue", disse Inês Filipa, economista-chefe da Icap Brasil. "Mas acho que a medida do Fed sozinha não é suficiente para valorizar nossa moeda e sustentar esse processo." Para a ela, a tendência, "pelo menos por ora", é o real se manter desvalorizado, orbitando entre R$ 2,05 e R$ 2,10.
No mercado de juros, a postura do Fed fortaleceu a posição dos que veem viés desinflacionário na economia global. A promessa de que o custo do dinheiro seguirá baixo nos EUA ampara apostas na manutenção da atual política monetária no Brasil e levou à primeira baixa em quatro dias nas taxas negociados na BM&F.
No Brasil, a ausência de indicadores na agenda fez o mercado se focar nas declarações da presidente Dilma Rousseff. Ela disse na França que o juro mais baixo e o câmbio equilibrado evitam a canibalização da indústria e que o Brasil caminha para um patamar de juro similar ao internacional.