O risco de maior pressão inflacionária no curto prazo, destacado na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), trouxe uma mudança de cenário para os gestores, que tiraram do radar a expectativa de queda da taxa básica de juros, hoje em 7,25% ao ano. Algumas casas como BNP Paribas Asset Management e BB DTVM já começam a considerar até a possibilidade de um aumento da taxa Selic neste ano.
Diferentemente do ano passado, não há uma tendência clara para taxa básica de juros diante de um cenário de crescimento econômico ainda baixo e de inflação alta. Os gestores terão que ter uma gestão mais ativa da carteira. "O mercado vai ser mais volátil e teremos que reavaliar as posições todos os dias", afirma David Cohen, gestor da Paineiras Investimentos.
Nesse cenário, os gestores têm reduzido a posição em Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-B), que apresentaram um aumento de taxas, principalmente nos papéis com prazos até cinco anos.
O movimento de alta das taxas dos títulos públicos se ampliou após o comunicado que acompanhou a decisão do Copom, no dia 16, já sinalizando preocupação com a piora da pressão inflacionária no curto prazo.
Desde o dia 16, a taxa das NTN-B com vencimento em 2015, por exemplo, subiu de 1,78% para 1,94% no dia 24. Já a taxa da Letra do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 2014 aumentou de 7,16% para 7,23%. Na sexta-feira, a curva de juros no mercado futuro apontava um aumento da Selic em 0,75 ponto percentual, para 8% ao ano, em 2013.
Mesmo com o BC enfatizando na ata do Copom que vê "estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado", o risco de aumento das pressões inflacionárias, com a reversão de isenções tributárias, expectativa de aumento do preço dos combustíveis e de recuperação da economia, tem feito alguns gestores considerarem um cenário de elevação da taxa básica neste ano.
É o caso da gestora BNP Paribas Asset Management, que trabalha com um cenário de alta da Selic para 8,25% no fim de 2013, com o ciclo de alta se estendo para 2014. "A ata do Copom foi um divisor de águas que deixou claro que não faz sentido apostar em queda da taxa básica de juros como algumas casas vinham esperando", diz Humberto Vignatti, gestor de renda fixa da BNP.
Para o gestor, em um cenário de alta da taxa de juros, os títulos indexados à inflação de curto prazo tendem a apresentar uma performance pior que a dos prefixados.
A remuneração da NTN-B é composta por taxa prefixada mais a variação da inflação. Quando as taxas sobem, o preço dos papéis nas carteiras dos fundos cai com a marcação a mercado. Isso ocorreu, por exemplo, com os fundos de renda fixa índices, que aplicam nesses papéis, que apresentaram retorno negativo de 0,21% na semana encerrada no dia 18.
A BNP Asset Management tem reduzido as posições em papéis atrelados à inflação com prazos mais longos, que apresentam mais volatilidade em um cenário de aumento de taxa de juros. "Realizamos uma parte dos lucros com as NTN-B, e devemos manter uma posição abaixo do "benchmark" (IMA-B) nos fundos de inflação", afirma Vignatti.
O gestor da Western Asset, Nicolas Saad, também está menos otimista com o desempenho dos títulos atrelados à inflação e mantém posição abaixo do índice IMA-B nos fundos renda fixa índices, que aplicam em papéis indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). "Pode haver uma correção nesses papéis e temos preferido os títulos prefixados com vencimentos entre 2017 e 2021."
Mesmo com a expectativa de alta da inflação no curto prazo, o economista-chefe da Mauá Sekular, Rodrigo Melo, não vê espaço para ganho com esse tipo de estratégia, que consiste na arbitragem entre o rendimento oferecido pelas Notas do Tesouro Nacional - série B (NTN-B) e os DIs futuros de prazo equivalente. A inflação implícita refletida nas NTNs-B chegou a 6% na projeção para o fim de 2013, acima da estimada pelos analistas que era de 5,65%, de acordo com o último boletim Focus. "A inflação implícita já está próxima do teto da meta (6,5%) e não vejo prêmio neste tipo de aposta". A gestora trabalha com um cenário de manutenção da taxa básica de juros neste ano e de IPCA em 5,80%.
Já a BB DTVM acredita que o aumento das taxas dos títulos indexados à inflação não é uma tendência e que há oportunidade de ganhos nas NTNs-B com vencimento no médio prazo, que ele considera até 2022. "Estamos com mais cautela com as NTNs-B de prazos muito longos", destaca André Abreu, gerente executivo de renda fixa da BB DTVM.
A gestora revisou a projeção para taxa básica de juros e espera uma alta da Selic para 8,25% ao ano no último trimestre.
O gestor da Paineiras Investimentos, que chegou a ganhar com a queda da taxa básica de juros no ano passado, também vê potencial em com os títulos indexados à inflação com prazos mais longos.
Segundo Cohen, a mudança de regra para a aplicação dos fundos de previdência privada aberta no início deste ano, que prevê o alongamento do prazo médio dessas carteiras, pode aumentar a demanda por papéis de mais longo prazo.