Com alta do dólar, despesa de turistas caiu 7,5% em abril. Déficit externo vai a US$ 5,4 bi, o maior para o mês desde 1947
BRASÍLIA. A crise financeira internacional afetou as contas externas brasileiras em abril. As transações externas fecharam o mês no vermelho em US$ 5,4 bilhões, o pior resultado para meses de abril desde 1947 quando o governo começou a registrar os dados, em consequência do comércio exterior mais fraco. Por outro lado, com a alta do dólar, os brasileiros gastaram US$ 1,8 bilhão, uma queda de 7,5% em relação ao mesmo mês do ano passado (US$ 1,95 bilhão).
Em março, as despesas com viagens foram de US$ 1,62 bilhão, mas o Banco Central (BC) alega que há sazonalidades no período e que vê uma queda das despesas dos turistas daqui para frente. Informações parciais de maio apontam uma tendência de baixa nas despesas com viagens ao exterior. Até 22 maio, os turistas brasileiros gastaram US$ 1,2 bilhão nessas viagens.
- A conta de viagens é diretamente ligada à cotação do dólar. Os brasileiros estão gastando menos no exterior nos últimos meses. A depreciação do real torna as viagens dos brasileiros mais caras - disse Fernando Rocha, chefe adjunto do Departamento Econômico do BC.
Em relação às contas externas, a previsão do BC era de que o saldo de abril ficasse negativo em US$ 5,2 bilhões. O resultado foi pior do que o registrado em março, quando a conta das transações correntes foi deficitária em US$ 3,304 bilhões. Também ficou abaixo do desempenho de abril de 2011, quando as transações correntes registraram saldo negativo de US$ 3,598 bilhões.
Os investimentos estrangeiros diretos registraram queda em relação ao mesmo mês do ano passado: US$ 4,7 bilhões ante US$ 5,5 bilhões. No ano, entraram US$ 19,6 bilhões no pais. O BC espera mais US$ 3 bilhões neste mês e aposta que a previsão de ingressos de US$ 50 bilhões neste ano será alcançada.
- Não é de se esperar que um projeto de longo prazo seja alterado por questões pontuais. São ingressos bastante significativos. Não temos visto nenhum movimento que não seja o projetado - alegou Rocha.
Remessa de lucros e dividendos cai 44%
O dinheiro que já entrou somente pelos investimentos produtivos cobre o déficit nas contas externas nos primeiros quatro meses do ano. As transações correntes fecharam o primeiro quadrimestre no vermelho em US$ 17,5 bilhões. Mas, em relação ao tamanho da economia, esse déficit representa 2,05% do Produto Interno Bruto (PIB): praticamente o mesmo de março.
- Apesar da impressão de um abril mais fraco do que o esperado, a conta corrente continua bem ancorada, mas a conta de capital pode ter um pouco de pressão dada a deterioração do cenário externo e pelas medidas tomadas (pelo governo brasileiro) para desencorajar determinados tipos de fluxos de capital - afirmou Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs.
- A tendência é de uma leve piora por causa da crise. Não há sinais ainda de um problema grave de financiamento - analisou o economista do Banco Fator José Francisco Gonçalves.
Um número que reforça a ideia que a crise já chegou ao país é o de remessas de lucros e dividendos ao exterior. Nos primeiros quatro meses do ano, as transferências das empresas multinacionais instaladas no país somaram US$ 5,9 bilhões: uma queda de 44% em relação ao mesmo período do ano passado.
- Lucros e dividendos são resultado da atividade econômica - lembrou Rocha.