As remessas de lucros e dividendos ao exterior somaram US$ 1,96 bilhão em março, reforçando a tendência de queda dessas despesas este ano. Em igual mês do ano passado, elas atingiram US$ 3,71 bilhões (recuo de 47%). Na comparação do primeiro trimestre de cada ano, os gastos do país com esse item da conta de transações correntes com o exterior também recuaram, passando de US$ 8,39 bilhões para US$ 3,47 bilhões.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, atribui a principal explicação ao nível da atividade econômica em 2011. Com o crescimento da economia em 2010, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 7,5%, as multinacionais tiveram melhores resultados e puderam remeter mais lucros e dividendos no ano seguinte. A queda das remessas em 2012 reflete a desaceleração da economia em 2011. Mais recentemente, a desvalorização do real também pode ter desestimulado as empresas estrangeiras a enviar parte de seus resultados às matrizes, acrescentou o chefe do Depec.
O recuo dos gastos com lucros e dividendos tem ajudado a reduzir o déficit em transações correntes. No mês passado, esse déficit foi de US$ 3,32 bilhões, inferior, portanto, aos US$ 5,73 bilhões de igual período de 2011. A cifra foi mais baixa também do que a esperada pelo Banco Central, cuja projeção indicava saldo negativo de US$ 4,5 bilhões no mês.
Na comparação entre os primeiros trimestres de 2011 e 2012, o déficit em conta corrente também caiu, de US$ 14,77 bilhões para US$ 12,11 bilhões. Houve recuo ainda, pelo segundo mês consecutivo, do acumulado em 12 meses. No período encerrado em fevereiro, as despesas do país com comércio, serviços, transferências de renda e transferências unilaterais superaram as respectivas receitas em US$ 52,23 bilhões, o equivalente a 2,09% do PIB estimado pelo BC. No período encerrado em março, o saldo foi negativo em US$ 49,81 bilhões, ou 1,98% do PIB.
Dados preliminares de abril indicam que a conta de lucros e dividendos ao exterior será novamente menor do que em igual mês do ano passado. Até o dia 20, as remessas somaram US$ 618 milhões, valor bem inferior aos US$ 2,11 bilhões de abril de 2011.
As despesas dos brasileiros com viagens internacionais também contribuíram para atenuar o déficit em conta corrente, mas só no mês, quando somaram US$ 1,627 bilhão. Foi uma queda modesta em relação a março de 2011 (US$ 1,645 bilhão), embora a primeira na comparação entre um mês e o mesmo do ano anterior desde setembro de 2009. Segundo Maciel, o arrefecimento se deve ao comportamento do câmbio, que ficou desfavorável às viagens internacionais, e porque o Carnaval caiu em fevereiro neste ano.
No acumulado do trimestre, porém, os gastos dos turistas brasileiros bateram recorde, chegando a US$ 5,38 bilhões, expansão de 13,2% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 4,75 bilhões). Já os estrangeiros, nos três primeiros meses do ano, gastaram US$ 1,92 bilhão no Brasil, crescimento de 11,7% na mesma base de comparação.
As despesas líquidas com aluguéis de equipamentos também foram recorde no mês passado e no acumulado do trimestre. Em março, elas somaram US$ 1,49 bilhão ante US$ 1,25 bilhão do mesmo mês de 2011. No acumulado do trimestre, o saldo negativo foi de US$ 4,30 bilhões, ante US$ 3,61 bilhões registrados nos três primeiros meses de 2011.
Tulio Maciel explicou que pesam para esse item vir crescendo continuamente a demanda do setor de extração mineral, que aluga os equipamentos para ampliar a capacidade de produção de petróleo e metais metálicos.