As taxas de juros futuros mergulharam na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). O movimento de baixa, no entanto, não surpreende uma vez que foi contratado na quarta-feira à noite com a divulgação do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom).
O mercado viu no comunicado a chance de novos cortes na Selic e foi colocar isso no preço dos contratos futuros.
Pelas contas feitas por Luis Rogé, do Investcerto, a curva futura sugere Selic a 8,5% na reunião de maio do Copom.
Para um tesoureiro, no entanto, o que mercado faz é brincar de "mago". Na visão dele, não há como o BC levar a taxa básica para 8,5% sem antes resolver a questão da poupança.
O risco é a queda da Selic levar a um esvaziamento dos fundos de renda fixa.
"Acho que para o BC cortar mais tem de ter alguma mágica com a poupança. Caso contrário, ele tem de manter o que disse sobre levar a Selic para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos."
De Washington, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acenou que esse não seria o momento de mudar a fórmula de rendimento da poupança. Para o ministro, há outras variáveis de ajuste em jogo, como a taxa de administração cobrada pela indústria de fundos de investimentos.
Bradesco e Itaú Unibanco não esperaram a ata para reavaliar suas previsões para a Selic.
O Bradesco aponta um novo corte de meio ponto como evento "mais provável", embora não descarte a probabilidade de manutenção da Selic em 9%.
Mais enfático, o Itaú Unibanco incorporou o corte de meio ponto ao cenário e não descarta reduções adicionais, desde que o BC mantenha a visão positiva para a inflação e que as limitações institucionais (como a poupança) possam ser contornadas.
Para o sócio e gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, a comunicação feita pelo BC foi uma surpresa.
Na ata de março, a autoridade monetária tinha falado em levar a Selic para próximo das mínimas histórias de 8,75%. E em entrevista concedida na semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reafirmou esse plano de voo.
No entanto, diz o gestor, com tal comunicação após a decisão de quarta-feira, o BC "força" o mercado para, ao menos, mais uma queda na Selic.
O BC não foi explícito sobre continuidade ou parada do ciclo de afrouxamento monetário, mas o tom benigno sobre a inflação e visão deflacionária da cena externa foram suficientes para estimular o mercado.
"Ele poderia ter esperado a ata para dar algum aceno. Agora ele abre espaço para uma série de ruídos. Se ele não tivesse falado em parar próximo a 9% não teria problema, mas esse não é o caso", diz o especialista.
O risco de tal estratégia continua sendo uma possível piora nas expectativas de inflação e um consequente aumento na inclinação da curva de juros.