O esperado comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não indicou que a Selic seguirá caindo, tão pouco foi claro em dizer que o ciclo de corte acabou.
Com isso, a perspectiva é de queda nas taxas de juros futuros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
As taxas futuras já vinham mostrando uma chance de 50% de redução da Selic para baixo dos 9%. E tal movimentação pode ser reforçada hoje.
Na avaliação do economista para América Latina do Standard Chartered, Ítalo Lombardi, o comentário do BC foi curto e sem grandes novidades, ainda assim, o tom foi de tranquilidade.
O BC fala em riscos limitados para a trajetória da inflação e que dada a fragilidade da economia mundial, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária.
"O tom do comunicado parece deixar a porta aberta para novas reduções", diz o economista.
Ainda de acordo com Lombardi, não é possível extrair informação de que o BC entrou em pausa. Ou seja, segura a taxa em 9%, com a possibilidade de novas reduções até o fim do ano.
Na visão do economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, o comunicado não deixa claro que o ciclo de afrouxamento acabou.
Por isso mesmo, não pode ser descartada a possibilidade de novas reduções.
Como o BC foi "curto e grosso" no comunicado, a ata será elemento fundamental para a formação mais clara das expectativas. Segundo Lombardi, o foco estará voltado ao parágrafo no qual a autoridade monetária revelou sua intenção de levar a Selic para próximo das mínimas históricas.
Se fôssemos levar a comunicação oficial ao pé da letra, seria possível afirmar que o BC encerrou o ciclo ou colocou em pausa, pois o objetivo era levar o juro básico para próximo de 8,75%, justamente a mínima histórica.
O economista-chefe do Santander, Maurício Molan, observa que a redução anunciada ontem coloca a taxa real de juros brasileira em 3,5% ao ano, se considerada a diferença entre a nova Selic e a expectativa da inflação para os próximos 12 meses.
Ele destaca que esse nível de juro real é o mínimo histórico, "o que demonstra uma preocupação da autoridade monetária com o ritmo de crescimento da economia e com o ambiente internacional volátil".
O corte decidido pelo Copom estaria associado, portanto, à preocupação com o nível da atividade econômica e não só com a inflação, em tese, única meta que o Banco Central deve perseguir.
Molan reconhece, no entanto, que "a conjuntura inflacionária é begnina", o que "permite uma ação de política monetária mais agressiva".
A inflação do IPCA acumulada em 12 meses deve fechar o terceiro trimestre deste ano em 4,7%, segundo as projeções do Santander.
O economista-chefe da instituição acrescenta que "o forte afrouxamento monetário" tende a contribuir para redução da inadimplência dos empréstimos e financiamentos, para a expansão do crédito e para a retomada de um crescimento mais forte ainda em 2012.
A redução de 0,75 ponto percentual nesta reunião do Copom era a aposta majoritária do mercado. A pesquisa feita pelo Valor na semana passada mostrou que 31 de um total de 32 instituições consultadas acreditavam que esse seria o tamanho do corte. Apenas uma apostava em redução de meio ponto percentual.
O patamar de 9% decidido é o menor desde 29 de abril de 2010.