A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desfez de vez as expectativas de que a taxa básica de juros permaneça por longo período em 9% ao ano, nível decidido na semana passada. Divulgado ontem, o documento não só suprime a referência à estabilização da Selic num patamar "ligeiramente superior ao mínimo histórico", que estava na ata da reunião de março, como ainda fala em "flexibilização monetária adicional".
Por outro lado, deixa claro que "qualquer movimento de flexibilização", nesse sentido, "deve ser conduzido com parcimônia". A defesa de uma postura parcimoniosa indica que, embora admitidos, novos cortes da taxa não serão da mesma magnitude nem necessariamente virão na sequência dos ocorridos de agosto de 2011 até agora. O termo "parcimônia" sugere que não está descartada uma breve interrupção da trajetória de queda da Selic, com retomada de cortes inferiores a 0,5 ponto percentual mais à frente. O que o Copom descarta, com a nova ata, é a possibilidade de uma interrupção mais duradoura do processo de afrouxamento monetário.
A ata da reunião anterior tinha criado tal expectativa ao atribuir "elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Esse mínimo é de 8,75% ao ano, nível que vigorou entre 23 de julho de 2009 e 28 de abril de 2010. O "ligeiramente acima" foi interpretado pela maioria dos agentes do mercado, na ocasião, como uma admissão tácita de que a Selic pararia de cair quando chegasse a 9% ao ano.
A justificativa para não fechar a porta a novas reduções da Selic estaria na lenta recuperação da atividade econômica. Essa recuperação "vem ocorrendo mais lentamente do que se antecipava", afirma o Copom. No entanto, novos movimentos de flexibilização da política monetária exigem "parcimônia", na visão do Comitê, por causa da defasagem de tempo com que os cortes da taxa básica de juros produzem impacto na economia.
O aumento do ritmo da atividade econômica, após a forte desaceleração vista em 2011, tende a ser moderado, entre outros fatores, porque o cenário internacional é "frágil" e ainda se apresenta como "importante fator de contenção da demanda agregada" da economia. "Até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária", diz a ata.
O documento informa que, desde a reunião de março, "os riscos para a estabilidade financeira global se mantiveram elevados". De um modo geral, acrescenta, "pouco se alteraram as restrições às quais estavam expostas diversas economias maduras". Tudo isso faz com que o cenário externo contribua para que os riscos à trajetória de inflação permaneçam "limitados".
A política fiscal, que pressupõe superávit primário anual de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014, é mais um fator de contenção da demanda, observa o Copom.
Apesar de moderado, o ritmo de crescimento da economia interna tende a ser melhor do que foi em 2011, ano em que o PIB aumentou apenas 2,7%. O Copom avalia que as perspectivas para o nível de atividade econômica "são favoráveis neste e nos próximos semestres", embora com "alguma assimetria entre os diversos setores".
A expansão moderada da oferta de crédito, tanto para empresas quanto para pessoas jurídicas, é um dos fatores que devem contribuir para a melhora do ritmo de crescimento.
A ata cita ainda os elevados níveis de confiança de consumidores e empresários. Também continuarão a favorecer a atividade econômica doméstica, na visão do comitê, as transferências públicas de recursos e o vigor do mercado de trabalho.