A decisão, que não foi unânime, surpreendeu a maior parte dos economistas do mercado financeiro, que apostavam maciçamente em nova manutenção da taxa básica da economia em 11% ao ano. Ela se dá num momento de fraca atividade econômica, tendo o PIB registrado retração no primeiro e segundo trimestres deste ano - o que configura recessão técnica. A inflação dos últimos 12 meses, entretanto, está em 6,75%, acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
No comunicado que se seguiu à decisão, a diretoria da instituição avaliou que seria oportuno ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.
Um fator que será fundamental nas próximas decisões do BC (tem reunião do Comitê de Política Monetária marcada para dezembro) é o comportamento do dólar. Principalmente depois que o Fed anunciou que não irá mais continuar com seu programa de compra de ativos, o que deverá valorizar a moeda norte-americana e pressionar ainda mais a inflação por aqui.
Cenário externo faz Bolsa cair 2,45%
À espera da nova equipe econômica do governo Dilma Rousseff, a Bovespa teve ontem um pregão mais voltado para o noticiário corporativo, com balanços, recomendações e recompras em destaque. Na última hora da sessão, no entanto, foi o resultado do encontro do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) que movimentou os ativos, levando a Bolsa paulista a superar 2% de perdas.
No fechamento, o Ibovespa registrou baixa de 2,45%, aos 51.049,32 pontos, na mínima. Na máxima, marcou 52.330 pontos (estabilidade). No mês, acumula baixa de 5,67% e, no ano, de -0,89%.
O BC dos EUA anunciou que o programa de compra de bônus termina em outubro, como era esperado. As condições do mercado de trabalho estão melhorando, a inflação continua abaixo da meta de 2% e a atividade econômica se expande em ritmo moderado. Dessa forma, a taxa dos Fed Funds ficou inalterada entre zero e 0,25%.
De acordo com o Fed, o aumento dos juros vai depender do progresso em direção às metas. Para a Bovespa, o comunicado mostra, acima de tudo, melhora da economia norte-americana, o que pode tirar investidores do mercado doméstico, ainda mais em meio às incertezas que permeiam o Brasil no pós-eleição.
O resultado da reunião de política monetária do Fed mudou o comportamento do dólar no finalzinho da sessão de ontem. A moeda passou a subir no mercado externo e influenciou o andamento do dólar aqui, que reduziu consideravelmente as perdas vistas mais cedo no segmento à vista, enquanto o dólar futuro passou a subir. O dólar à vista terminou em baixa de 0,28%, a R$$ 2,465.
A importância da selic
O que é?
A taxa Selic é a média de juros que o governo brasileiro paga por empréstimos tomados nos bancos. É considerada básica por ser a de menor risco. Desta forma, quando ela sobe, ou seja, o governo está pagando mais para captar dinheiro, todo o resto do mercado, que impõe um risco maior que o governo a quem empresta, paga um juro maior. A mesma lógica se dá quando a Selic cai. Assim, quanto maior a Selic, mais “caro” fica o crédito que os bancos oferecem aos consumidores.
Por que a Selic é importante para a política econômica?
O governo usa essa taxa como instrumento para controlar a inflação. Se a Selic é alta, há menos dinheiro circulando e menos procura por produtos e serviços à venda. Se a demanda é menor, os preços caem. A Selic também ajuda a controlar a entrada de investimentos estrangeiros. Quem investe em títulos brasileiros ganha com os juros altos, o que faz entrar mais dinheiro no país. Quanto mais dólares entram no país, menor a cotação da moeda por aqui.
Por que tanta gente reclama dos juros altos?
Os juros altos diminuem o consumo, o que prejudica as vendas. Se as empresas não crescem, a economia não anda.
E para o consumidor, que diferença isso faz?
É a Selic que dá a medida das outras taxas de juros do país: cheque especial, do crediário, dos cartões de crédito, da poupança.
Dá para ganhar com a Selic alta?
Como a Selic também influencia os juros que os bancos pagam quando emprestam dinheiro de alguém, os poupadores ganham isso. Em geral, quanto maior a Selic, maior o rendimento das aplicações de renda fixa, como poupança e CDB.
Presidente da Vale cotado para Fazenda
O substituto de Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda é a informação considerada mais valiosa na dança de cadeiras do segundo mandato. A bolsa de apostas só aumenta. Nas conversas de ontem com fontes do governo surgiu mais um nome: o do presidente da Vale, Murilo Ferreira. O do governador da Bahia, Jaques Wagner, também é forte.
Eles se unem ao ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa, ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante e outros nomes de peso do mercado. Ninguém arrisca cravar qual será o escolhido da presidente Dilma, mas cresce a percepção de que ela gostaria de surpreender, com a indicação do nome que comandará a economia, sem, no entanto, dar uma guinada radical.
Dilma é centralizadora, gosta de ter o controle das decisões nessa área e dificilmente abandonará de uma hora para outra seu estilo de governar. Murilo Ferreira, dizem auxiliares presidenciais, seria uma novidade, uma forma de Dilma surpreender o mercado. Ele é presidente da Vale há três anos, tendo antes atuado como diretor comercial e financeiro da empresa.
A própria escolha de Ferreira para a Vale foi uma surpresa, atribuída pelo mercado à proximidade dele com Dilma. Os dois se conheceram quando ele atuava na fabricante de alumínio Albrás. A Vale informou que Ferreira não comentaria o assunto. Wagner tem dito, em conversas reservadas, que não domina economia e não se arriscaria numa pasta da qual pouco conhece.
Fonte: Gazeta Online