A perda de valor do real frente o dólar ao longo deste ano elevou a inflação de alimentos. Segundo cálculos de economistas do banco Credit Suisse, liderados por Nilson Teixeira, parte do aumento da inflação de alimentos no segundo semestre decorreu de elevações de preços de produtos sensíveis a oscilações dos preços de commodities agrícolas.
Isso derruba uma das principais teses da área econômica do governo para a aceleração da inflação nesse período - a de que o IPCA subiu, a partir de meados do ano, unicamente por causa de choques de oferta. Os choques, de fato, ocorreram, mas o que a equipe do Credit Suisse constatou é que a depreciação cambial os maximizou.
Em junho, o IPCA acumulado em 12 meses caiu para 4,9% (melhor resultado no ano). Em novembro, saltou para 5,5%. Uma decomposição dessa diferença de 0,6 ponto percentual entre junho e novembro mostra que a alta da inflação foi provocada pelos seguintes fatores: carnes (9,4% de peso), outros alimentos (34,1%), commodities externas (38,3%) e commodities internas (17,5%).
Os técnicos do Credit Suisse fizeram simulação para verificar se, retirada a influência do câmbio, a inflação teria sido a mesma. O que se verificou foi que, se a taxa de câmbio tivesse permanecido em R$ 1,80 (valor de janeiro) ao longo de 2012, a inflação teria sido bem menor desde junho.
Tome-se a inflação de alimentos acumulada em 12 meses. Com o câmbio estável em R$ 1,80 e considerando os choques de oferta, ela teria sido, de junho a novembro, respectivamente, de 5,9%, 7,2%, 7%, 7,9%, 9,1% e 8,4%. Por causa da desvalorização - o dólar chegou a valer mais de R$ 2,10 -, foi de 6,4%, 8,2%, 8,4%, 9,5%, 10,8% e 10%.
Nos 12 meses até novembro, o IPCA acumulou variação de 5,5%. Se a taxa de câmbio tivesse ficado estável em R$ 1,80, a inflação acumulada teria sido, nesse período, de 5,3%, uma diferença a menor de 0,24 ponto percentual, segundo estimativa do Credit Suisse.
Isso explica por que, agora, o Banco Central (BC), preocupado com o efeito da desvalorização do real sobre a inflação, decidiu adotar medidas para valorizar o real frente ao dólar. Entre setembro de 2011 e setembro deste ano, o câmbio sofrera depreciação de 30%.
Uma parte importante dessa desvalorização foi provocada por fatores não controlados pelo BC, como o aumento da aversão dos investidores a risco. Uma outra parte, todavia, decorreu de medidas adotadas pelo governo para desvalorizar a moeda nacional e estimular a indústria.
Na segunda metade de novembro, o mercado levou a cotação do dólar a mais de R$ 2,10, motivado por declarações da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, segundo as quais, o câmbio ainda estaria apreciado. Para Mantega, em 19% quando comparado ao dólar.
Nas duas últimas semanas, o Banco Central sinalizou que não pretende mais deixar o câmbio ir a R$ 2,10 e que, na verdade, trabalha para trazer as cotações para algo mais próximo de R$ 2,00, embora esse patamar seja considerado, pelo ministro Guido Mantega, o piso da banda informal de flutuação.
Para o BC, o câmbio passou a ser o principal instrumento para conter as pressões inflacionárias em 2013, uma vez que a taxa básica de juros (Selic) permanecerá estável (em 7,25% ao ano) por período "prolongado" e a política fiscal deixou de ser contracionista, o que dificulta o controle da demanda agregada.
A inflação tem surpreendido negativamente o BC. O IPCA-15, por exemplo, foi a 0,69% em dezembro, acima de suas expectativas e também das do mercado. No ano, o IPCA-15 fechou com variação acumulada de 5,78%, bem acima, portanto, da meta de 4,5%.
No mercado e no governo, a expectativa é que o IPCA de janeiro venha "carregado". No primeiro caso, há projeção, entre firmas de investimento, de até 0,88%, índice bastante elevado (em janeiro de 2012 foi a 0,56%).
Os economistas do Credit Suisse estimam que uma depreciação de 10% na taxa de câmbio eleva a inflação entre 0,35 e 0,61 ponto percentual.