O Banco Central deve deixar o dólar próximo de R$ 2,00 no decorrer de 2013 para estimular as importações e controlar a inflação. Na visão da autoridade monetária, permanece o descompasso entre o ritmo de produção do país e o consumo: os brasileiros têm demandado muito mais do que o parque industrial nacional é capaz de fazer no momento. A solução para preencher esse buraco e evitar a remarcação de preços está nos importados. “O dólar ajuda no controle inflacionário. Não tem por que mexer. O fato de ele (o BC) manter controlada tende a trazer benefício para o IPCA”, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank.
Mas, mesmo com a contenção do dólar e a possibilidade de aquisição de itens de fora, o encarecimento do custo de vida ainda vai incomodar as famílias. A previsão da diretoria do BC é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano acima de 4,8%, projeção desenhada no Relatório de Inflação divulgado em dezembro. Pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o IPCA terminará 2013 em torno de 5%.
Para 2014, o BC escreveu, pela primeira vez, que a inflação ficará “ligeiramente acima da meta”. A previsão anterior era de que, tanto neste ano quanto no próximo, ela convergiria para o centro da meta, definida em 4,5%. O governo, no entanto, continua com o discurso otimista em relação à carestia, sobretudo pela perspectiva de que o Brasil terá uma safra recorde e sem problemas climáticos. “Não tenho clareza de que haverá um arrefecimento nos preços dos alimentos, embora as commodities tenham cedido um pouco”, observou Jankiel Santos. “A maior pressão deste ano, porém, continuará a vir dos serviços”, disse.
Realista
Depois da divulgação do documento, o BC se tornou a voz mais realista do governo, segundo o mercado. Ao longo do texto, a instituição reiterou diversas vezes que a inflação apresenta riscos a curto prazo e que a carestia se dispersou pelos preços. Diante dessa nova postura, o mercado entendeu que não há mais qualquer possibilidade de novos cortes de juros nem de reversão da política monetária, o que implicaria em elevar a taxa básica (Selic).
“Estamos revisando a nossa projeção para a taxa de juros nos próximos meses”, informou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, entidade que acreditava em mais quedas. “Esperamos agora que a Selic permaneça estável em 7,25% ao ano até o fim de 2014”, disse. Outras instituições também mudaram as suas perspectivas e, no mercado futuro de juros, um grupo pequeno chegou a apostar em elevação da taxa nos próximos meses.