BC compra mais US$ 2,1 bi para segurar moeda, com previsão de novo "tsunami monetário"
SÃO PAULO A perspectiva de uma enxurrada de dólares no país, por causa das medidas de estímulo monetário adotadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), voltou a puxar a cotação para baixo ontem. O dólar já abriu em queda e atingiu o menor patamar do dia, R$ 2,016. Meia hora depois, o Banco Central (BC) interveio no mercado para segurar a moeda, fazendo uma espécie de compra de dólares no mercado futuro, no valor de US$ 2,1 bilhões. A operação foi bem-sucedida: o dólar fechou em alta de 0,94%, cotada a R$ 2,030 para venda.
Após o leilão de contratos de swap cambial reverso (que equivalem à compra de dólares no mercado futuro), o dólar atingiu a máxima do dia, a R$ 2,035. Na semana passada, o BC já havia feito três leilões para tentar segurar a moeda acima de R$ 2. Só na sexta-feira, foram dois e, mesmo assim, a divisa encerrou o dia em queda de 0,39%, a R$ 2,022 na venda. No total, já são US$ 5,1 bilhões, em quatro intervenções.
O dólar vem se desvalorizando frente ao real e a outras moedas depois que o Fed anunciou, na última quinta-feira, que vai comprar US$ 40 bilhões em títulos ligados ao mercado imobiliário por mês. A possibilidade de um novo "tsunami monetário" já está levando o governo brasileiro a considerar voltar a elevar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos no exterior com prazo de até cinco anos. A taxação foi revogada há alguns meses devido à queda do fluxo de recursos após o agravamento da crise global.
- Para o BC, o câmbio agora flutua só para cima. A autoridade monetária criou as bandas, com piso de R$ 2 até R$ 2,10, e agora faz todo o possível para manter a moeda nesse intervalo. O problema é que a tendência do dólar é de queda no mundo, não só no Brasil. E quando o Fed começar a injetar os US$ 40 bilhões mensais, a pressão será maior - avalia João Medeiros, diretor da corretora Pionner.
- Só com os leilões de swap cambial será difícil segurar a moeda acima dos R$ 2. Certamente o governo terá que voltar a mexer no Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para desincentivar captações no exterior, se quiser manter a cotação acima de R$ 2 - diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.
governo continuará a atuar, diz barbosa
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, por sua vez, disse ontem que o governo continuará atuando firmemente para controlar o câmbio, que "ainda está bem apreciado". Segundo Barbosa, ainda é cedo para avaliar o impacto do novo pacote do BC americano, mas a Fazenda não hesitará em voltar a "regular os fluxos" de recursos externos e o mercado de derivativos.
- O governo atua e vai continuar atuando no câmbio - avisou ele, durante o 9º Fórum Econômico, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. - Esperamos que isso (a injeção monetária) fique circulando na própria economia americana e ajude em sua recuperação. (...) Tomaremos todas as medidas necessárias para evitar apreciação do câmbio.
Perguntado se o governo já estaria trabalhando em novas medidas Barbosa disse:
- Medida cambial a gente não anuncia antes, a gente toma e explica depois.
Para Sidney Nehme, da corretora NGO, o Brasil não terá um "tsunami monetário":
- O Brasil já não tem tanta atratividade como antes. O juro caiu e hoje fazer operações de arbitragem com dólares já não é vantajoso. A tendência de baixa do dólar nos últimos dias foi mais um movimento de expectativas.
Repetindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega , Barbosa disse que o país crescerá entre 4% e 5%, com a inflação convergindo ao centro da meta no fim de 2013, o que dispensaria uma retomada da alta nos juros como projetam os analistas de mercado.
- Não há contradição em crescer entre 4% e 5% com a inflação convergindo para a meta. A expectativa era que o IPCA caminhasse para 4,7% já este ano, contudo choques de oferta, como o dos grãos nos Estados Unidos, elevaram o índice para 5%. Mas esses são fatores transitórios, que não impedem a convergência adiante - disse o secretário-executivo.
Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de 0,48% ontem, aos 61.805 pontos, após operar com volatilidade durante todo o dia por causa do vencimento de opções sobre ações, encerrando um ciclo de sete pregões de alta. Só na semana passada, a Bolsa teve valorização de 6,5% - a maior alta semanal do ano - e os investidores aproveitaram para embolsar lucros.
quedas nas bolsas europeias e americanas
O setor de energia elétrica ajudou a segurar um recuo maior do Ibovespa, mostrando recuperação após a forte queda da semana passada, quando o governo anunciou as novas regras de renovação das concessões. As ações da Cteep (Transmissão Paulista PN) subiram 7,56% .
- A tendência de longo prazo para a Bovespa é de alta, mas vemos hoje (ontem) uma correção técnica, com o mercado embolsando parte dos lucros após sete pregões de ganhos - disse o analista gráfico da Ativa Corretora no Rio de Janeiro, Gilberto Coelho.
Na Europa, os pregões tiveram um dia de correção, após as altas verificadas na semana passada depois da decisão do Fed. A Bolsa de Frankfurt se desvalorizou 0,11%; a de Paris, 0,78%; e a de Londres, 0,37%. Nos Estados Unidos, as Bolsas também passaram por movimento de venda de ativos. O S&P 500 caiu 0,31%; o Dow Jones se desvalorizou 0,30% e o Nasdaq perdeu 0,17%.