O dólar voltou a subir, em sessão marcada pela volatilidade controlada no mercado, e ignorando dados de fluxo cambial que mostram aumento, ainda que tímido, no saldo positivo acumulado em novembro. Para profissionais do mercado, isso é prova que a cotação da moeda, atualmente, está mais relacionada ao que dita o governo do que ao fluxo cambial.
"O fluxo, na verdade, não tem impactado o nível da taxa de câmbio. O mercado tem olhado muito mais para a postura do governo com o dólar. E a gente vê que o desejo é de dólar mais alto", disse Bruno Surano, analista da Votorantim Corretora. "Talvez ainda este ano ele consiga o objetivo, que poderia ser até mesmo o dólar a R$ 2,20."
Tradicionalmente, o fim do ano é marcado por maiores saídas que entradas de capital, dado o aumento nas remessas de lucros por empresas estrangeiras instaladas no país. Ainda assim, em novembro até o dia 23, o fluxo cambial está positivo em US$ 3,537 bilhões, praticamente anulando o saldo negativo de US$ 3,823 bilhões de outubro.
Para Carlos Eduardo de Andrade, diretor de câmbio do Banco Rendimento, o fluxo positivo em novembro não é surpresa. Segundo ele, a economia brasileira ainda favorece a entrada de capitais, especialmente no atual cenário, em que há poucas alternativas com bom retorno e risco relativamente baixo no exterior.
"A situação brasileira tranquiliza bastante o investidor, pois o país tem uma posição cambial extremamente favorável, com mais reservas do que dívidas. Fica claro que, aqui, só haverá um calote se o governo realmente quiser, e certamente essa não é a intenção", disse Andrade. "O mercado aqui ainda oferece boas margens [para lucros] se comparadas com as de lá de fora, além do fato que a situação ainda é ruim para muitos no exterior."
Segundo ele, o fato de o fluxo positivo de novembro ser sustentado exatamente pelas entradas pela conta financeira, mostram que investidores estão preferindo utilizar o excesso de liquidez disponível no mercado mundial em aplicações no Brasil. Segundo o BC, a conta financeira acumula saldo positivo de US$ 4,612 bilhões em novembro, ante saldo negativo de US$ 1,075 bilhão da comercial. Os investimentos no Brasil ocorrem em detrimento de outros na Europa, ainda em crise, e nos EUA, onde a recuperação ainda patina e pode desandar caso não se resolva a tempo o "fiscal cliff".
A melhora nas entradas líquidas pela conta financeira, porém, podem não ser sustentáveis, na opinião de Roberto Serra, gestor da Fram Capital. Segundo ele, o próprio cenário externo pode minar o fluxo financeiro para o país.
"Se a volatilidade lá fora continuar baixa e o tom minimamente positivo, talvez [o saldo] continue. O que dá para dizer é que, para efeito de taxa de câmbio, o mercado está muito mais interessado nas declarações das autoridades do governo", disse ele. "Isso explica porque, mesmo com o fluxo bem positivo deste mês, o real se desvalorizou. Essa correlação [de fluxo positivo e real valorizado] claramente foi quebrada."
Já no mercado de juros, as taxas projetadas nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam ao redor da estabilidade ontem, após três sessões seguidas de queda, em pregão dominado pela expectativa com relação ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que anunciou a decisão sobre a Selic apenas à noite, após portanto o encerramento dos negócios.