Mercado especula sobre mudança de estratégia no câmbio
-SÃO PAULO, BRASÍLIA E WASHINGTON- O dólar Comercial fechou ontem cotado a R$ 2,23 na venda, uma valorização de 1,31%. Foi a maior alta percentual frente ao real desde 26 de agosto. Segundo analistas, o fato de o Banco Central (BC) não ter vendido a totalidade dos contratos de swap cambial tradicional no leilão diário levou o mercado a desconfiar que pode estar em curso uma mudança de estratégia. Na máxima do dia, a divisa americana foi negociada a R$ 2,236 e na mínima, a R$ 2,206.
No leilão de contratos de swap cambial realizado ontem, o BC vendeu 9.650 papéis, dos dez mil ofertados, o equivalente a US$ 480,1 milhões. Desde 22 agosto, quando divulgou um plano de até US$ 100 bilhões para intervir no mercado cambial este ano, o BC tem vendido diariamente contratos de dólar ao mercado.
O mercado entendeu que, ao não vender todo o lote, o BC sinalizou uma redução do número de contratos ofertados, e passou a comprar dólares.
— O fato de o BC não vender todo o lote de contratos pela primeira vez desde o início do plano de ação acendeu uma luz amarela, e o mercado passou a comprar dólares. Ou a demanda por dólares no mercado diminuiu, o que não parece ser o caso, já que algumas propostas de compra foram recusadas, ou o BC está mudando a estratégia ere-duzindo a quantidade de contratos vendidos — disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.
BC NÃO TERIA ACEITO PROPOSTAS BAIXAS
Para o analista em câmbio da corretora Icap Brasil, ítalo Abucater, mesmo tendo deixado de vender apenas 350 contratos, o BC deu um sinal confuso ao mercado:
— Independentemente do lote não vendido ter sido pequeno, o mercado passou acreditar que isso poderá se repetir nos próximos leilões. Como a posição dos bancos é vendida em dólares (apostando na queda da moeda), essa mudança trouxe desconfiança. Por isso, houve um rali de compra da moeda.
Segundo outro profissional de câmbio, houve propostas de compra dos contratos não aceitas pelo BC que estavam abaixo de R$ 2,20. Ou seja, eram muitas baixas e não foram aceitas por esse motivo.
— As ofertas de compra foram feitas por um valor muito baixo e o BC recusou. Os investidores entenderam que o BC não quis dar mais prêmio — diz o operador, que avalia que o resultado ruim das contas externas teve maior influência de alta sobre o dólar do que o leilão de ontem.
— As contas externas vieram ruins e, por enquanto, não há sinais de melhora. Isso fez a procura por hedge (proteção contra a variação cambial) aumentar, assim como as remessas para o exterior — diz o operador.
Uma fonte da área econômica afirmou que o BC só não vendeu a totalidade dos contratos de swap porque não houve demanda. Anteontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que não haveria mudanças no plano de ação da instituição para reduzir a volatilidade do mercado de câmbio.
EUA NEGOCIAM N0V0 TETO DA DÍVIDA
Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, alertou ao Congresso americano sobre a necessidade elevar o teto de US$ 16,7 trilhões de endividamento do governo federal, sob o risco de
o Executivo americano esgotar a capacidade de financiar seus gastos a partir do dia 17 de outubro, quando só sobrariam US$ 30 bilhões em caixa. Sem dinheiro, o calote do governo seria inevitável. Líderes republicanos na Câmara dos Representantes anunciaram que a votação do tema poderá ocorrer até amanhã.
Da última vez que chegou-se perto do limite legal do teto da dívida pública americana, democratas e republicanos não conseguiram chegar a um acordo e foi adotado um sistema de corte automático de gastos, conhecido como "sequestro" que está em vigor nos EUA desde abril.
Parlamentares precisam lidar com outra crise potencial: o fechamento de agências federais por falta de recursos. Se o Congresso não prover fundos emeigenciais, isso poderia ocorrer já em outubro, início do ano fiscal americano. Esse dinheiro seria usado para pagar tropas militares americanas, garantir o patrulhamento das fronteiras, fornecer almoço escolar para crianças e milhares de outras atividades.