Mesmo despejando US$ 2 bilhões no mercado futuro de câmbio, o Banco Central não conseguiu segurar a forte alta do dólar frente o real. A divisa norte-americana disparou 1,67% ontem e atingiu R$ 2,08 na venda — o maior valor desde 15 de maio de 2009, quando havia chegado a R$ 2,109. Segundo especialistas, o receio de que a Grécia abandone o Euro, piorando a situação de crise para Espanha, Portugal e Itália, está levando os investidores a ficar com dinheiro em caixa para evitar perdas ou a buscar o dólar, o que faz sua cotação subir frente às principais moedas do globo.
No Brasil, a alta tem sido acentuada pelas medidas restritivas impostas pelo governo para a entrada de capital estrangeiro, que tem de pagar Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações acima de 5 anos. Segundo alguns analistas, essas amarras deram ao Banco Central o “monopólio da venda” e o mercado não consegue mais se equilibrar sozinho. “Entre as moedas de países emergentes, o real foi a que mais perdeu frente ao dólar”, observou Alfredo Barbutti, economista-chefe da corretora BGC Liquidez.
Para economistas, esses fatores têm potencial para elevar o dólar ainda mais, caso o BC não promova intervenções severas no mercado. “O governo não consegue conter esse movimento dos estrangeiros de apostar no real mais depreciado. Essas apostas não estão só no mercado futuro, nem constituem apenas uma posição especulativa. É um sentimento de que a moeda pode se desvalorizar ainda mais”, disse Newton Rosa, economista da Sul América Investimentos. Diante disso, o mercado começa a refazer também suas apostas nos juros futuros. Ontem, todos os contratos fecharam em alta, indicando o temor de que a subida do dólar pode provocar inflação e, assim, atrapalhar a estratégia do governo de reduzir os juros.
Bovespa desaba
Diante da expectativa de menor crescimento do Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) se descolou do resto do mundo e amargou queda de 2,74%, fechando em 55.038 pontos. Para os analistas, mesmo com as medidas de estímulo anunciadas na segunda-feira, a economia não deve avançar mais do que 3% em 2012. Além disso, o cenário de aversão ao risco tem feito investidores trocarem o mercado acionário por ativos considerados mais seguros, como ouro, títulos do governo norte-americano e dólares.