Depois de uma semana descolado de qualquer influência externa, o real retoma a correlação com as moedas emergentes e outros ativos de risco.Ontem, conforme o humor mundial piorou, a moeda brasileira, bem como o rand sul-africano, peso mexicano e dólar australiano perderam valor de forma acentuada. Ainda assim, no acumulado do mês, o real está entre as que menos perdem.
Ontem, o dólar comercial encerrou o dia com alta de 0,77%, a R$ 1,833, maior alta diária em um mês. No mercado futuro, o dólar para maio ganhava 0,90%, a R$ 1,842, antes do ajuste final.
De acordo com um tesoureiro, a queda mais acentuada das commodities ajuda a explicar tal comportamento do real e de outras moedas emergentes.
O índice CRB de commodities caiu 1,4%, voltando para a linha dos 300 pontos, menor leitura desde 19 de dezembro.
As matérias-primas perdem força em função do aumento da aversão ao risco. O humor piorou seguindo renovadas preocupações com a saúde dos governos e dos bancos da zona do euro. Além disso, o mercado viu novos sinais de desaceleração nos dados sobre a balança comercial da China, em março.
Ilustrando bem o momento negativo, o VIX, que mede a volatilidade das opções na bolsa americana e é visto com um termômetro do medo do mercado, subiu 10,15%, a 20,72 pontos, maior leitura em um mês.
Ainda de acordo com esse tesoureiro, se o quadro seguir como está não dá para descartar a possibilidade de o real voltar à R$ 1,90 até o fim do mês.
Os analistas do Nomura compartilham de visão semelhante.
Olhando o mercado pelo prisma técnico, o ponto a ser observado é o R$ 1,844 no mercado futuro. Se tal linha for superada, é possível que sirva de gatilho a uma série de "stops" (ordens automáticas de compra/venda), que podem levar a moeda rapidamente para próximo de R$ 1,90.
Olhando para as posições na BM&F, bancos, estrangeiros e fundos locais não tinham, até segunda-feira, grandes "apostas" em contratos de dólar futuro.
No mercado futuro de juros, a tese de Selic abaixo de 9% perdeu um pouco de fôlego depois que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reafirmou o plano de voo de levar a Selic para próximo das mínimas históricas de 8,75%.
Mas o movimento interessante está nos vencimento de longo prazo, que caem de forma acentuada. Nas mesas, fala-se em forte entrada de fundo estrangeiro no vértice janeiro de 2017.
O estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, diz que o estrangeiro percebeu que a intenção do governo é levar o juro para baixo. Com isso, vieram correndo ganhar os prêmios que existiam em partes da curva.