O fluxo cambial persistentemente negativo no Brasil desde o início do mês tem aumentado as expectativas de que o Banco Central (BC) seja levado a vender dólares no mercado à vista.
A explicação, de acordo com profissionais do mercado, passa pela posição comprada dos bancos em dólar no mercado à vista, que não para de cair e sinaliza que as instituições podem precisar de liquidez caso as saídas líquidas de recursos persistam.
Os bancos terminaram abril com um "colchão" de US$ 5,999 bilhões. Mas o agravamento da crise internacional, sobretudo na Europa, tem provocado uma forte saída de recursos, liderada pela conta financeira, e os bancos tiveram que suprir os dólares a seus clientes que queriam remeter recursos do país.
O resultado disso é que a posição comprada das instituições no mercado à vista caiu para US$ 2,2 bilhões na última sexta-feira (25), um tombo de 63,3%, na estimativa do BNP Paribas. No mês, até, o dia 22, a posição comprada dos bancos estava em US$ 4,446 bilhões.
Na quarta-feira, o BC divulga os dados oficiais do fluxo cambial fechado de maio e a posição dos bancos no mercado à vista no encerramento do mês.
Entre outubro e novembro de 2008, essa posição dos bancos também sofreu uma forte queda, saindo de US$ 7,077 bilhões para US$ 2,530 bilhões no período. Em outubro daquele ano, o BC voltou a vender dólares no mercado à vista e, embora não tenha necessariamente elevado a posição comprada das instituições (que chegou a cair a US$ 145 milhões em março de 2009), vendeu no mercado à vista o equivalente a US$ 14,5 bilhões.
"Se a posição dos bancos ficar zerada ou vendida no mercado à vista, o último provedor de liquidez será realmente o BC", afirmou um profissional da área de mercados de um banco, lembrando que, naquela época, o BC deu liquidez também por meio de outros instrumentos, como leilões de linha, além dos swaps cambiais tradicionais (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro) que voltou a ofertar em 18 de maio.
"Essa possibilidade de o BC vender dólar no spot existe e, se tal hipótese ocorrer e houver demanda acima do esperado, cabe ao BC garantir a liquidez. Se lá fora o cenário piorar de maneira repentina, com certeza por aqui o mercado vai refletir as oscilações", disse o gerente de câmbio de um banco em São Paulo.
A turbulência no exterior, em meio a preocupações com a Grécia e a Espanha, já provocou a saída de US$ 5,051 bilhões pela conta financeira em maio até o dia 25, segundo dados do BC. É o pior resultado desde dezembro de 2008, auge da crise, quando deixaram o Brasil US$ 6,254 bilhões por essa conta.
O fluxo cambial total estava negativo em US$ 2,763 bilhões em maio até a última sexta-feira, a caminho do pior resultado mensal desde junho de 2010, quando houve déficit de US$ 4,279 bilhões.
Ao mesmo tempo, o dólar acumula alta em torno de 18,7%, na casa dos R$ 2, desde que tocou a mínima do ano, de R$ 1,699 no fim de fevereiro.
O diretor financeiro de uma corretora em São Paulo pondera que o BC só venderia dólares à vista em duas situações: no caso de um evento como a saída da Grécia da zona do euro, que deflagraria uma forte onda de aversão a risco, ou se os próprios bancos, antes disso, sinalizarem claramente dificuldades para suprir dólares a seus clientes.
"Antes disso, acho que o BC vai continuar apenas observando e ofertando swap se achar necessário", acrescentou.
Em maio, as atuações do BC se limitaram ao mercado futuro. Foram colocados US$ 5,4 bilhões em swaps que ajudaram a amenizar a valorização do dólar e marcaram uma reversão de postura do governo com relação ao mercado de câmbio.
Até o fim de abril, o BC era tomador de moeda americana - comprou US$ 18,157 bilhões no mercado à vista e a termo - e o governo tinha forte posição contrária à apreciação do real, pois lutava a "guerra cambial", combatia os efeitos de um "tsunami monetário" gerado nas economistas desenvolvidas e engrenava uma "política industrial".
No mês, o preço do dólar comercial subiu 5,82%, e a moeda encerrou negociada a R$ 2,018, depois de ser cotada acima de R$ 2,10. Agora em 2012, o dólar apresenta valorização de 7,97%.