Depois do otimismo que tomou conta da bolsa brasileira nas duas últimas semanas - boa parte dele advindo das ações da Petrobras, da forte recuperação dos papéis da OGX e do sucesso das ofertas da BB Seguridade e do Smiles - vale a pena prestar atenção no comportamento dos investidores estrangeiros nos próximos pregões.
Embora tenham comprado ações em maior quantidade (R$ 1,5 bilhão na última semana de abril) incentivados por recomendações feitas por analistas de grandes bancos e corretoras internacionais, os estrangeiros ainda mantêm elevada posição vendida em Ibovespa Futuro, o que representa uma aposta de baixa da bolsa brasileira mais à frente, além de proteção contra eventuais solavancos do mercado.
Além disso, o mercado se adapta a partir de hoje à nova carteira teórica do Ibovespa, com uma participação maior das voláteis ações da petroleira de Eike Batista, e menor dos papéis da Petrobras, além de duas novas componentes: Bradesco ON e BR Properties ON.
Na semana passada, o Bank of America Merrill Lynch divulgou relatório citando dez motivos para que os investidores não sejam tão "bearish" (baixistas) em relação às ações brasileiras. "Em nossa visão, o país está se aproximando de um ponto de inflexão em termos de crescimento, resultados de empresas e sentimento", afirmam os analistas Felipe Hirai, David Beker e Marina Valle.
"Há um clima de relativo otimismo com a bolsa brasileira", observa o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "O balanço da Petrobras [divulgado em 26 de abril] agradou o mercado em geral. Além disso, houve um movimento de recuperação das empresas "X"", afirma. Os papéis da OGX chegaram a acumular valorização de mais de 70% na segunda quinzena de abril.
Porém, a alta não teve qualquer relação com os fundamentos da companhia. Ela foi provocada por um movimento técnico decorrente da nova carteira teórica do Ibovespa. Diversos fundos que usam o índice como referencial foram obrigados a comprar papéis da OGX porque sua participação no Ibovespa saltou de 2% para 5%. Na sexta-feira, o papel terminou estável a R$ 1,83.
Operadores chamam atenção para o aumento na demanda por aluguel de ações da OGX, o que pode representar novas baixas do ativo à frente. A posição "short" (vendida) do papel passou de 274 milhões de ações no dia 26 para 301 milhões na quinta-feira (2).
"Tem gente pagando taxa de 30%, 40% ao mês para alugar o papel", disse uma fonte. E agora que possui peso maior no Ibovespa, a queda de OGX pode fazer mais estragos na bolsa brasileira. "Infelizmente, a metodologia adotada pela bolsa para o Ibovespa privilegia a volatilidade", observa Gala.
Com relação às recentes compras dos estrangeiros, o estrategista da Fator considera que ainda é cedo para afirmar que esse investidor, o principal ator da bolsa brasileira, mudou sua opinião sobre o Brasil. Gala lembra que a posição dos estrangeiros em contratos de Ibovespa Futuro permanece sobrevendida. O saldo até quinta-feira era de 165 mil contratos, ante 159 mil na quarta. Segundo operadores, um nível aceitável seria abaixo de 100 mil contratos. Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em alta de 0,30%, aos 55.488 pontos, acumulando alta de 2,3% na semana.