A crise das dívidas soberanas na Europa voltou a preocupar os investidores e fez a aversão ao risco crescer globalmente. A Bovespa acompanhou o clima negativo do mercado externo e recuou novamente, perdendo um importante suporte
gráfico que garantia sua tendência de alta. As ações do Banco do Brasil e da Petrobras lideraram as perdas, enquanto os papéis do setor de construção se recuperaram após várias baixas.
Desta vez foi a Espanha que assustou os mercados. O país teve de pagar juros mais altos no leilão de títulos de sua dívida realizado ontem e só conseguiu captar € 2,589 bilhões, praticamente o piso do intervalo desejado, que variava entre € 2,5 bilhões e € 3,5 bilhões. A operação foi considerada o primeiro teste dos mercados após a Espanha anunciar seu Orçamento para 2012.
Por aqui, o Banco do Brasil azedou o clima no setor bancário ao anunciar um forte corte nos juros em linhas de financiamento para pessoas físicas e pequenas empresas. As ações do banco estatal afundaram 5,90%, para R$ 24,20, lideraram as perdas do Ibovespa e arrastaram os papéis preferenciais do Bradesco (-2,52%) e do Itaú (-3,07%). O anúncio ocorreu apenas um dia depois de a presidente Dilma Rousseff ter defendido a necessidade de corte no spread bancário para impulsionar a economia. "Fazia muito tempo que o Banco do Brasil não sofria ingerência do governo", observou o chefe de análise de uma grande
corretora brasileira. O Banco do Brasil perdeu R$ 4,4 bilhões de seu valor de mercado ontem e agora vale cerca de R$ 69,3 bilhões em bolsa (ver texto na página C3).
As ações ON (-2,66%) e PN (-3,50%) da Petrobras também caíram forte, pelo segundo pregão seguido. No caso da estatal de petróleo, o mercado já está acostumado às interferências do governo, especialmente no que diz respeito ao reajuste dos combustíveis. Mas, segundo operadores, o motivo principal da queda de ontem foi a cassação de uma concessão na Argentina, onde a Petrobras não teria realizado investimentos para produzir petróleo. A companhia disse que ainda não foi informada pelo governo argentino da perda da concessão.
Na ponta positiva do mercado brilharam as ações do setor de construção, que passaram por uma correção após uma sequência de baixas. Brookfield ON (4,92%) e Cyrela ON (4,81%) lideraram o Ibovespa, acompanhadas por Rossi ON (2,81%) e PDG
Realty ON (4,02%).
Do ponto de vista da análise gráfica, o Ibovespa confirmou padrão de queda no curto prazo, conhecido pela figura "ombro/cabeça/ombro", afirma o analista técnico da Citi Corretora, César Crivelli. "Esse desenho começou a se configurar na semana passada, quando o índice perdeu os 64.900 pontos. Agora, com a perda dos 64 mil pontos o mercado ganhou tendência de queda no curto prazo", explica. Segundo ele, o índice deve buscar um primeiro suporte nos 62.300 pontos e, depois, nos 60.800 pontos, para então ganhar nova força de alta rumo aos 69 mil pontos, que é o nível mais alto alcançado neste ano.