As empresas exportadoras aproveitaram a desvalorização de 15,6% do real ante o dólar desde fevereiro para aumentar a margem de lucro nas vendas ao mercado externo. Para adotar políticas mais agressivas de exportação, como redução do preço em dólar ou reforço das equipes de venda, as empresas aguardam sinais mais claros de que a taxa de câmbio ficará nesse nível por um período longo.
Apesar do câmbio menos apreciado, o saldo comercial brasileiro deve ser de, no máximo, US$ 15 bilhões em 2012, avalia a área econômica do governo. Se isso ocorrer, pelo sétimo ano seguido a balança comercial exercerá influência negativa no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
A desvalorização do câmbio ajudou a reduzir o custo do trabalho na indústria medido em dólares, mas o impacto sobre a competitividade ainda é limitado. Em maio, o indicador ficou 15% menor do que no pico atingido em julho do ano passado, feito o ajuste sazonal, segundo cálculos da MB Associados. No entanto, quando se analisa o resultado da média dos primeiros cinco meses do ano com a do mesmo período de 2011, o que suaviza o movimento, o custo do trabalho em dólares mal saiu do lugar - ficou 0,4% menor.
O custo do trabalho estimado pela MB compara a evolução da folha de pagamento, já descontada a inflação, com a produtividade na indústria, levando em conta a taxa de câmbio real entre a moeda brasileira e a americana.
O alívio no indicador se deve em grande parte à desvalorização do câmbio, que se depreciou em quase 23% entre julho de 2011 e maio deste ano. A folha de pagamento também deu uma pequena ajuda nos últimos meses, recuando 3,6% entre março e maio. Quando se considera a média de janeiro a maio, porém, a desvalorização do real em relação ao mesmo período de 2011 é bem mais modesta, totalizando 8%. Nesse intervalo, também houve uma alta da folha de salários e uma queda da produtividade, explicando por que o custo em dólares fica praticamente estável nessa comparação.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a tendência de queda do custo do trabalho em dólares é "um alívio para as empresas exportadoras ou que concorrem com produtos estrangeiros", embora limitado. O problema, segundo ele, é que a alta havia sido muito forte nos últimos anos. De 2005 a 2011, o custo unitário do trabalho em dólares havia subido 79,5%. Para que a redução do indicador signifique de fato uma virada na competitividade das empresas, seria necessário um ajuste muito maior, diz Vale.
O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, vê a nova tendência do custo do trabalho em dólares como uma boa notícia, mas também diz que é preciso cautela para analisar o efeito sobre a indústria. O aumento do indicador nos últimos anos tinha sido muito forte, com a alta dos salários acima dos ganhos de produtividade e valorização muito acentuada do câmbio. Para Ramos, esses números sugerem mais que a indústria parou de perder competitividade, mais do que uma melhora significativa.
A comparação da evolução do custo de trabalho no Brasil e em outros países nos últimos anos é bastante desanimadora. Números da MB mostram que, entre 2007 e 2011, ele no Brasil subiu muito mais do que nos EUA. Por lá a alta foi de apenas 3,6% no período, enquanto por aqui o aumento chegou a 44,9%.
No relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia brasileira, divulgado neste mês, há uma análise sobre o desempenho da indústria manufatureira do país depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. O documento diz que, entre essa data e o fim de 2011, o custo do trabalho no segmento "cresceu perto de 20%" quando comparado com o indicador de seus principais parceiros comerciais.
Essas duas comparações dão uma medida de como os custos do trabalho no Brasil aumentaram mais do que de outros países, um golpe na competitividade de empresas que têm de arcar altas tarifas de energia elétrica e uma carga tributária cara e complexa.
Vale e Ramos não esperam quedas adicionais expressivas do custo do trabalho em dólares no país. A expectativa para a taxa de câmbio é de que o dólar tende a ficar nos atuais níveis, podendo cair um pouco caso a situação europeia não sofra uma deterioração expressiva. Tampouco se espera que os gastos com a folha de pagamento encolham ou que haja ganhos de produtividade muito significativos, diz Vale. Para ele, é muito importante que o governo de fato promova uma redução expressiva do custo de energia elétrica para a indústria, como tem sido anunciado, e que se adotem outras medidas de alívio tributário.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau, Ulrich Kuhn, não trabalha com quedas nos gastos com salários, mesmo num segmento que enfrenta a forte concorrência do importado e tem dificuldades para exportar. Segundo ele, entre março e maio houve cinco negociações salariais, que resultaram em aumentos de 1% a 1,3% acima da inflação. Kuhn diz que as empresas têm em geral segurado trabalhadores, por causa da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada e da expectativa de alguma melhora da atividade no segundo semestre. O que tem havido, em geral, é a não reposição de trabalhadores que ou se aposentam ou vão para outras companhias. Para ele, o alívio recente no custo do trabalho em dólares não é motivo para grandes comemorações.