A escalada do dólar a partir de maio provocou o crescimento da procura, por parte das empresas, pelas principais linhas de crédito ao comércio exterior brasileiro. A maior volatilidade verificada neste mês até chegou a provocar o adiamento de contratações de câmbio por exportadores, mas, com a trégua vista no exterior nos últimos quatro dias, empresas voltaram a aproveitar momentos de picos da moeda americana para trazer as receitas deixadas lá fora e retomar a contratação de linhas de financiamento à exportação.
De maio para cá, apresentaram crescimento as linhas de crédito conhecidas como Pagamento Antecipado (PA) e Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC). Na primeira, o exportador toma recursos de um banco ou do próprio importador relativos a um produto que pode ser exportado dentro de até cinco anos. No ACC, a mais tradicional forma de financiamento à exportação no país, um banco antecipa ao exportador, em reais, os recursos de uma exportação já acertada mas ainda não embarcada (o prazo para embarque é de até 360 dias).
Em junho até o dia 21, a contratação de PA alcançou US$ 2,814 bilhões, com crescimento de 58% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, o avanço dessa linha é de 56,5% comparado com o mesmo período do ano passado, somando US$ 35,613 bilhões. Já o volume via ACC somava US$ 2,924 bilhões em junho, até o dia 21, representando um aumento 17% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, no entanto, há uma queda de 20% das contratações via ACC em relação ao mesmo período do ano passado, somando US$ 20,411 bilhões.
A linha de pagamento antecipado registra um impulso extra em relação a 2012 porque em março do ano passado, na tentativa de conter o ingresso de dólares no país, o governo havia imposto restrições à modalidade. O prazo da linha de crédito isenta de Imposto sobre Operações Financeiras havia sido reduzido de cinco anos para 360 dias. A restrição caiu em dezembro passado.
O grande volume de operações de pagamento antecipado também se justifica porque algumas empresas utilizam essa linha como meio de trazer ao país recursos captados via emissão de bônus de dívida no exterior. O grande volume registrado nas operações de PA em maio (US$ 15,341 bilhões), por exemplo, foi impulsionado pela operação da Petrobras, que trouxe parte dos recursos da emissão de US$ 11 bilhões em títulos lá fora para o Brasil por meio dessa linha.
Para os próximos meses, embora profissionais do mercado ainda prevejam um cenário não muito favorável às exportações, especialmente devido à perspectiva de contínua queda das commodities, principal produto da pauta de exportação brasileira, há estimativas de que a procura pelo financiamento continue em alta. Uma das razões é que essas linhas surgem como opção de financiamento atrativa diante do recente encarecimento das emissões de bônus de dívida lá fora.
É o que pensa o diretor responsável por empréstimos sindicalizados do banco ING, Samuel Canineu. "Não estamos vendo ainda um aumento do custo para as linhas de "trade finance" [financiamento ao comércio exterior]."
Outra modalidade de linha externa que deve ganhar força no atual cenário é a chamada trava de câmbio, prevê o presidente da área de mercados financeiros do Rabobank Brasil, Gustavo Cunha. A trava de exportação envolve a captação de uma linha externa para financiar a antecipação da venda da divisa estrangeira pelo exportador. O dinheiro captado é aplicado no mercado interno. O ganho com a operação é equivalente à diferença entre as taxas de juros externa e interna. "À medida que essa diferença sobe [como vem acontecendo], esse instrumento vai ficando mais atrativo", afirma Cunha.