A expectativa da retomada do crescimento econômico no segundo semestre, diante das medidas de estímulo anunciadas recentemente pelo governo e a percepção de que o ciclo de queda da taxa básica de juros pelo Banco Central (BC) pode estar perto do fim, têm levado alguns gestores a apostarem em ativos relacionados à inflação. Os profissionais enxergam oportunidades de ganho com o alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013.
A estratégia se dá, normalmente, pela arbitragem entre o rendimento oferecido pelas Notas do Tesouro Nacional - série B (NTN-B) e os juros prefixados de prazo equivalente. Pode ser tanto uma operação casada por meio da aplicação em contratos de DI na BM&F, ou por meio de um título público prefixado. Reflete, assim, a expectativa de variação do IPCA no período.
A chamada inflação implícita para 2013, refletida nas Notas do Tesouro Nacional - série B (NTNs-B) com vencimento em agosto de 2014, apontava uma taxa de 5,30% em 27 de agosto, ainda abaixo da projeção dos analistas de 5,50% para IPCA no ano que vem, segundo o último boletim Focus.
A BNP Paribas Asset Management é uma das casas que montaram estratégias de inflação implícita nas NTNs-B de curto prazo, buscando ganhar com o aumento da inflação no ano que vem. A gestora trabalha com taxa de 5,20% para o IPCA em 2012 e de 5,70% para 2013, acima dos 5,30% refletido hoje nos papéis com vencimento em 2014.
A gestora espera um corte de 0,5 ponto percentual da Selic na reunião do Comitê de Política (Copom) que termina hoje, havendo espaço para mais uma redução de 0,5 ponto percentual neste ano, encerrando em 7%. "O BC deve atuar de forma a não comprometer a recuperação do crescimento e há espaço para a manutenção da taxa de juros por um período mais prolongado, dado que o cenário externo continua apresentando dados fracos de atividade econômica na Europa, China e Estados Unidos", afirma Humberto Vignatti, gestor sênior de renda fixa da BNP Paribas Asset Management.
A SulAmérica Investimentos também aposta na inflação implícita, usando as NTNs-B com vencimento em 2015, que estavam apontando inflação anualizada de 5,30% no período, enquanto a projeção da gestora é de uma taxa anualizada de 5,4% a 5,5% para o IPCA no período. "O aumento da inflação no atacado deve impactar no aumento do IPCA", diz Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos.
Em julho, o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que mede a inflação no atacado, ficou em 1,34%, acima dos 0,66% registrado em junho.
O aumento da inflação no atacado, segundo Vignatti, teve como reflexo a mudança de patamar do câmbio para perto de R$ 2 e a valorização dos preços das commodities agrícolas em função, principalmente, da quebra de safra com a seca nos Estados Unidos.
Embora ainda não faça esse tipo de aposta, a gestora do Itaú Unibanco também enxerga uma oportunidade de ganho com essa estratégia, uma vez que mantém projeção de 5,70% para o IPCA no ano que vem. "A queda da taxa de juros desde agosto de 2011 e os estímulos adotados pelo governo neste ano devem trazer pressões inflacionárias em 2013", afirma Ronaldo Patah, superintendente de renda fixa do Itaú Unibanco. A gestora trabalha com a manutenção da Selic em 7,5% em 2013 e espera um aumento de dois pontos percentuais a partir de janeiro de 2014.
Para os gestores, a expectativa de uma nova rodada de flexibilização monetária ("quantitative easing") nos Estados Unidos, além do pacote de concessões para infraestrutura e das medidas de estímulos lançadas pelo governo devem contribuir para a retomada da atividade, o que pode levar o BC a elevar a taxa de juros no ano que vem. "Prevemos que a taxa Selic encerre este ano em 7,5% e depois volte a subir mais 1 ponto percentual no fim do primeiro semestre de 2013", diz Mello, da SulAmérica.
A BNP Asset Management também trabalha com um horizonte de alta moderada da taxa básica de juros para o fim de 2013. Nesse cenário, a gestora calcula haver prêmios nos contratos de DI de curto prazo, esperando um ajuste para baixo das taxas. "A curva de juros futuros está sinalizando uma alta da taxa Selic para 9,25% no acumulado até o fim de 2013, com o ciclo de alta começando entre março e abril do ano que vem, o que na nossa opinião está um pouco exagerado", diz Vignatti.
O gestor de renda fixa da BB DTVM, André Abreu, também não descarta a possibilidade de aumento da Selic em 2013 e vê uma oportunidade de ganho com posições compradas no contratos de DI com vencimento em 2014, cuja taxa fechou ontem em 7,82 %. "O mercado pode ter exagerado na queda e essa taxa pode ser maior em algum momento."
Para a Western Asset, no entanto, a queda da Selic não foi apenas uma janela temporária. Ele acredita que há espaço para uma queda nas taxas de juros de longo prazo. "As taxas caíram mais nos contratos mais curtos, havendo ainda um espaço para a redução nos mais longos", afirma Guilherme Abud, responsável pela área de renda fixa da Western Asset
A Bradesco Asset Management (Bram) também vê espaço para queda das taxas de juros com prazo mais longos. "Nosso cenário é de estabilidade da taxa básica de juros se o governo mantiver a disciplina fiscal, afirma Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bram.